Mensagem da Presidente da AILD
Abril em Portugal: Uma Celebração de Liberdade e Resiliência

Na edição de maio da Descendência Magazine, recordamos o mês de abril em Portugal — um período que se veste de história e emoções profundas. Abril evoca a memória de vidas corajosas e dos cravos que se tornaram símbolo de uma revolução. Inevitavelmente, a melodia de “Grândola, Vila Morena” de Zeca Afonso ressoa em nossas mentes, a senha que o Movimento das Forças Armadas (MFA) escolheu para iniciar a operação militar que confirmou o alvorecer da liberdade na madrugada de 25 de Abril de 1974. Este dia singular marcou o culminar de uma luta pela democracia e pela liberdade num Portugal oprimido.
Naquele tempo, Portugal era um país marcado pela pobreza, pelo atraso económico e por uma severa repressão política. O regime ditatorial impunha restrições implacáveis à liberdade de expressão, de associação e de imprensa. A educação era limitada e os direitos das mulheres eram marginalizados. Este cenário sombrio levou muitos portugueses a procurar uma vida melhor além-fronteiras, um êxodo bem retratado no livro “A Salto” de 1967, que expôs a dura realidade da emigração clandestina nos anos 60. A poderosa lente de Gérald Bloncourt também capturou a vida precária dos emigrantes portugueses nos bairros de lata nos arredores de Paris durante essa década. Uma das suas fotografias mais icónicas, a da pequena Tina com a sua boneca, rodeada pela lama, mas ostentando um sorriso infantil, tornou-se um símbolo pungente das dificuldades enfrentadas por estes portugueses.
A emigração, paradoxalmente, transformou-se também numa forma de resistência ao regime. Os emigrantes desempenharam um papel crucial na denúncia internacional da ditadura e no apoio à oposição democrática, contribuindo significativamente para o seu fim e para a construção de um Portugal democrático. Nomes como Mário Soares, exilado político em França e na Suíça, Álvaro Cunhal, que coordenou a resistência clandestina a partir do exílio, Manuel Alegre, que colaborou com a “Rádio Voz da Liberdade” em Argel, Jorge de Sena, que usou a sua escrita para criticar o regime a partir do Brasil e dos Estados Unidos, e Eduardo Lourenço, que contribuiu para o pensamento crítico sobre o salazarismo a partir de França e da Alemanha, são testemunhos desta luta.
O 25 de Abril de 1974, com a queda da ditadura, representou o fim de uma era de repressão e abriu as portas para uma nova fase na história portuguesa, marcada por mais liberdade, democracia e melhores condições de vida. O país que o povo português reconquistou naquele dia, homens e mulheres, jovens, estudantes, camponeses, operários, emigrantes, contrasta fortemente com o retrato que o renomado economista Paul Krugman encontrou em 1976, logo após a revolução: “um país muito pobre e retrógrado”. No entanto, ao regressar a Portugal em 2025, a convite do Banco de Portugal, Krugman expressou a sua surpresa e admiração com a evolução do país, afirmando: “espero que alguém estude Portugal, é um pouco misterioso como é que as coisas correram tão bem”.
Esta declaração poderosa ecoa a notável capacidade do povo português “dentro e fora das quatro linhas” em superar as adversidades e construir um futuro promissor.