Montenegro – Kotor

O rumo desta viagem conduz-nos até à pérola dos Balcãs da recente nação de Montenegro. A cidade histórica Kotor fundada no sopé de uma cordilheira montanhosa e com vista privilegiada para a Baia de Catarro “Boka Kotorska Bay”. A cidade histórica, morfologicamente escondida do mar Adriático foi nomeada em 1979 pela UNESCO, Património da Humanidade.

A história de Kotor destaca-se proeminentemente a cada passo que se dá pela cidade, falamos de património edificado deixado por sucessivos governos desde a sua fundação. A cidade de Kotor remonta ao período Romano entre 168 AC-476DC, todavia alguns historiadores colocam a hipótese da cidade ter sido fundada pelos Gregos no Sec. III AC. Este domínio romano deixou património edificado que aos dias de hoje ainda pode ser visitado, o que impulsionou a conquista da cidade pelo império Bizantino cujo domínio se perpetuou até ao ano de 1185, tendo inclusive sido alterado o nome da cidade para Dekaderon. No período subsequente 1185-1371 a cidade costeira de Kotor integra o denominado Estado Medieval Sérvio, que renomeiam a cidade para o seu nome original transformando-a numa cidade portuária. A história revela que esta cidade foi governada até aos dias de hoje sob influência de diversos povos, nomeadamente, Húngaros, integrou a denominada República Veneziana durante 400 anos, seguindo-se o controlo da cidade pelos impérios Austríaco, Russo e Francês. Sob domínio Austríaco até 1918 a independência durou até aos anos 40, com a ocupação Nazi. Com o fim da ocupação germânica toda a área passou a integrar a ex-Jugoslávia, e consequente República da Sérvia e Montenegro até à proclamação da independência em junho de 2006. Toda esta mescla de culturas e sucessivos domínios, preconizaram alterações histórico culturais visíveis aos dias de hoje.

A chegada a Kotor efetuada por barco através do mar Adriático é algo idílico, verdadeiramente retirado de um filme; uma pequena entrada no continente, serpenteando a cordilheira montanhosa e atingimos a Baia de Kotor. Um lago extenso com tonalidades incríveis, as montanhas em redor de repletas de água que escorre naturalmente para o lago. Ao fundo vislumbro a cidade de Kotor, onde ao longe se destaca a imponente muralha medieval e o porto com centenas de embarcações. A cidade possui ao longo da extensa muralha, três portões de entrada devidamente ornamentados com inscrições na rocha. As ruas são estreitas e repletas de turistas, mas não em exagero, Kotor ainda é um destino relativamente desconhecido e cuja oferta turística dificilmente compete com a da vizinha Croácia.  A máxima que “todos os caminhos nos levam a Roma” poderá literalmente ser aplicada, visto que qualquer das entradas nos faz deambular em direção à praça principal, designada praça, «Sv Tripuna».  Na praça Sy Tripuna podemos observar o edifício mais famoso de Kotor a Catedral de Sveti Tripun construída no século XII dedicada ao protetor da cidade. Os sucessivos terramotos que afetam regularmente a zona, resultaram em reconstruções que podem ser observadas nas casas habitacionais e no repleto património museológico. Aliás num destes terramotos foram descobertos vestígios da igreja original datada do século IX que deu origem à atual catedral. O estilo da construção da catedral preconiza claramente uma forte influência romana. As torres assimétricas são claramente o resultado de reconstruções. A Catedral de Kotor é conhecida como uma das mais antigas em território Europeu e no seu interior destaco as pinturas do século XIV, esculturas em pedra, um altar devidamente esculpido em pedra mármore “uma clara influência Veneziana” e as relíquias do Santo Tripun, nomeadamente uma cruz e a sua mão em prata.

De regresso às ruas seguimos para norte pelas ruas apertadas e repletas de flores, ao fundo da rua vislumbramos uma praça «Piazza Greca» onde se destacam duas igrejas. A Igreja de St. Nicholas, considerada a igreja ortodoxa mais importante de Kotor, de construção do início do século XX, ostenta no seu interior tesouros e pinturas dignas de uma visita. A Igreja de St. Luke apresenta traços mais familiares, visto incorporar técnicas de construção Romanas e Bizantinas, de acordo residentes foi o único edifício que após o grande terramoto de 1979 não sofre danos. A igreja de Sveti Luka apresenta uma característica única, nomeadamente os dois altares em pisos diferentes usados por Católicos e Bizantinos.

Durante a visita a Kotor, é imperativo a visita ao Forte de St Jonh «Sveti Ivan», situado na montanha acima da cidade, sendo que o acesso é efetuado através de escadas que serpenteiam a montanha. Ao longo do trajeto recomendo que conciliem as pausas, observem a paisagem e fotografem a cidade Medieval. É deslumbrante a vista sobre a baía! A fortaleza em si atualmente em ruínas servia essencialmente como posto de observação para a cidade medieval, para os mais aventureiros uma subida em período noturno permite fotografar a geometria da cidade de Kotor com as suas muralhas iluminadas e o reflexo da lua ao longo da baía. Recomendo que o resto dia em Kotor seja passado no interior da cidade visitando, o comércio, almoçando numa esplanada e aproveitando o que de melhor esta nação dos Balcãs tem para nos oferecer: descanso ao sabor da culinária mediterrânea. Obviamente que a escolha deverá ser para o peixe, rodeado de ingredientes conhecidos em terras lusas. As especialidades montenegrinas consistem essencialmente numa sopa de truta como entrada acompanhada de “njoke” uma espécie de pasta com tomate e manjericão.

A noroeste da cidade de Kotor, sensivelmente 15km é possível visitar a antiga cidade de Perast. Conhecida como uma cidade essencialmente piscatória, a sua importância advém da proximidade com as ilhas de São Jorge «Sveti Dorde» e Nossa Senhora das Rochas «Gospa od Skrpjela». No alto da cidade conseguimos vislumbrar algumas ruínas, que de acordo com os locais, serviria como fortificação protegendo a entrada da Baia. Esta cidade sempre se pautou como primeira linha de defesa de Kotor. Economicamente independente existem relatos que serviu durante muitos anos como porto de construção para antiga República de Veneza. Cidade à beira lago plantada, repleta de barcos de pescadores, hotéis e restaurantes. No centro de Perast observamos a igreja St Nichola construída ao estilo veneziano, uma verdadeira obra de arte nos dias de hoje, cuja visita é sem dúvida aconselhável.


A joia da coroa consiste na ilha da Nossa Senhora das Rochas, em que o acesso é efetuado por barco que saem regularmente do porto de Perast, e a sua visita dura cerca de 2 horas. De acordo com as lendas, esta ilha foi construída pelo homem – em homenagem após um naufrágio na baía – graças aos marinheiros, que sempre que visitavam o local, depositavam uma pedra e essa tradição ainda perdura até hoje. Na ilha sobressai a construção da Igreja da Nossa Senhora das Rochas, que ainda saúda com sinos os barcos que entram e saem da baía.  Na ilha aproveite para visitar a igreja e observe as vistas para a cidade de Perast e a 360 graus a baía de Kotor e a abertura para o mar Adriático. A visita a Perast é sem dúvida algo inesquecível, os hotéis nas imediações aproveitaram a disposição junto à baía e oferecem esplanadas e piscinas sobre o lago que são uma autêntica perdição para o olhar.

Visite Kotor a cidade Medieval das mil e uma invasões, pérola esquecida banhada pelo Adriático.

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