O fantástico mundo dos cogumelos

São mais de cinco milhões de espécies e estão repletos de mistério e envoltos em inúmeras curiosidades – é assim o fantástico mundo dos cogumelos– e, como estamos em pleno Outono, vale a pena falar deles.
De crescimento rápido e detentores de interessantes características biodegradáveis e compostáveis, estes elementos da natureza pertencentes ao reino dos fungos, possuem propriedades curativas para o corpo e para a mente, nomeadamente, na redução da inflamação e em tratamentos para a ansiedade e depressão, além de serem muito nutritivos. Mas nem tudo são rosas e aí entra o reverso da moeda, pois, sabe-se o seu potencial psicadélico e, no limite, poderão ser a causa da nossa morte. Daí a necessidade de um profundo conhecimento entre as espécies comestíveis e as venenosas e até mortais.
No subsolo desenvolve-se uma vasta rede de filamentos de fungos que estabelecem a ligação entre as raízes das árvores, dos arbustos e de outras plantas, numa simbiose perfeita de benefícios mútuos. Essa complexa rede chama-se micélio, do qual resulta o crescimento dos cogumelos.
Por via do desenvolvimento tecnológico transversal a todas as áreas da sociedade, novos compostos de cogumelos têm sido incorporados na produção de cosméticos, no fabrico de novas embalagens mais amigas do ambiente, assim como na criação de bebidas espirituosas não alcoólicas, com óptimos resultados, num mercado que vale vários milhões de dólares.
De entre uma panóplia de inovações interessantes desenvolvidas por várias empresas, importa destacar algumas delas. É o caso da Ecovative que cultiva micélio para ser utilizado em alimentos, produção de fibras têxteis semelhantes a couro, materiais de embalagens biodegradáveis, pranchas de surf, materiais estruturais e de isolamento. Também a MycoWorks, associada a marcas de luxo, transforma o micélio num produto semelhante ao couro.

Por sua vez, a Loop, vende caixões construídos com um composto de cogumelos e fibras de cânhamo que apresenta como grande vantagem o facto de decompor os corpos em poucas semanas, sendo que os cogumelos se alimentam dos restos mortais. Por outro lado, a Pact Outdoors produz kits de casa de banho compostos por comprimidos de micélio que facilitam a decomposição dos dejectos e matam as bactérias que degradam os ecossistemas.
Ou seja, os fungos começam a assumir uma nova função na sua já extensa cadeia de valor – a contribuição para a resolução de alguns problemas ambientais que afectam a sociedade actual, particularmente, na biorremediação de metais pesados em áreas contaminadas, na fertilização orgânica dos solos, na transformação de resíduos de alimentos em novos produtos comestíveis e na absorção da poluição plástica, entre outros.
Todavia, o incremento do cultivo, fabrico, transporte e consequente consumo de fungos em todas estas novas formas aporta novos riscos. A título de exemplo importa referir o aumento alarmante de espécies de cogumelos invasoras encontradas na natureza, possivelmente provenientes de produções comerciais.

O risco, tal como noutros casos de invasão dos ecossistemas, é que provoquem grandes alterações nas zonas ocupadas pelas plantas autóctones.
Tem sido notável o crescimento da indústria dos cogumelos no mercado das bebidas espirituosas não alcoólicas e dos alimentos frescos, apresentando-se como uma alternativa viável à carne. Também têm apresentado resultados promissores como alternativa e substituto do plástico nas embalagens.
O caminho não tem sido fácil, as resistências à utilização dos cogumelos como alternativas a outros produtos com maior implantação existem. A indústria da carne procura, através de vários meios, desacreditar a sustentabilidade e as vantagens para a saúde dos alimentos substitutos criados à base de plantas e de cogumelos, um pouco à semelhança da grande campanha movida em 1937 pelas indústrias do petróleo, do plástico e da silvicultura para criminalizarem a utilização do cânhamo, que era visto como um forte concorrente.
Se a florescente e promissora indústria ligada aos cogumelos vingará, só o tempo o dirá.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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