Patrícia Silva
Nasceu em Lisboa, mas mora e trabalha em Nova Iorque. Estudou Fotografia na School of Visual Arts (BFA), e mais tarde no Bard College (MFA) onde se dedicou ao estudo avançado de Fotografia e Vídeo. Em 2021, o trabalho de Patrícia foi incluído no livro More Than Our Pain: Affect and Emotion in the Era of Black Lives Matter. As suas fotografias já foram publicadas no The New York Times, The Times of Israel, Der Grief, e em Diva UK. Os seus vídeos já foram mostrados no British Film Institute, MIT List Visual Arts Center, Anthology Film Archives, Glasgow Centre for Contemporary Arts, IFC Theater, Colorado Photographic Arts Center, Instituto Cervantes entre outros. O seu trabalho faz parte das coleções permanentes no Brooklyn Museum, the Hellenic Centre for Photography na Grécia e no Colorado Photographic Arts Center.
Como e quando nasceu a paixão pela fotografia e o vídeo?
Logo na infância, que foi passada a ver o telejornal com a família à hora de jantar, e depois numa adolescência a devorar revistas em livrarias, quiosques, e na estação de Santa Apolónia onde encontrava um folheto da Amnistia Internacional.
Nova Iorque, como aconteceu?
Vim para Nova Iorque quando comecei a Universidade, a Escola de Artes Visuais/SVA.
Aprendi a revelar filmes, a imprimir com processos antigos, e depois a parte digital. Fiz uma escolha muito compatível com a minha curiosidade e não me tenho arrependido.
A prática de ver, precisa de mudar de registo muitas vezes.
Artista de vídeo como prefere ser intitulada, tem tido uma carreira de enorme sucesso com reconhecimento pelo seu trabalho em várias instituições internacionais, inúmeras presenças em festivais de cinema, exposições e mostras coletivas, prémio 2019 do Queens Council on the Arts New Works Grant, entre outros. Contava com este sucesso de forma tão generalizada e expressiva? O que acha que foi mais importante para esta sua carreira em ascensão?
O mais importante foi fazer, e experimentar com o que veio a seguir. Percebi que quando se faz uma peça qualquer, temos uma responsabilidade sobre esse trabalho, e isso, libertou-me muito. Ao partilhar as minhas ideias com mais coragem perdi o medo de falhar.
Acha que se tivesse ficado em Portugal teria a possibilidade de ter ido tão longe?
É difícil comparar. Portugal sempre teve diverso talento dentro do país, mas faltam infraestruturas para apoiar esse talento. Quando o Governo Português não apoiou a fundação da pintora mais conhecida do país, a Fundação Paula Rego, isso foi muito desmoralizante. A maioria dos artistas não vão chegar a esse nível mas continuamos a produzir, a ensinar, a inovar dentro do que praticamos e isso merece apoio para o desenvolvimento cultural. Mesmo assim, creio que teria mais apoio de colegas e artistas tal como eu, e isso conta muito. Também gostava de ver mais ligações entre artistas lusófonos.
A Patrícia Silva procura através da fotografia e o vídeo “facilitar entendimentos mais profundos sobre a imigração de longo prazo, os limites das identidades e as renovações diaspóricas”. De que forma essas pontes e leituras são feitas e que resultados/conclusões já foram alcançados?
Para mim a emigração/imigração tem sido algo que desliza entre verbos, experiências, e modos de ver. Tanto nos Estados Unidos da América como em Portugal fala-se de emigração como algo que se faz uma vez, e depois há a “Grande Volta”, ou uma adaptação que se contenta com processos de nostalgia. Não acho esse enquadramento muito útil, acho que cria um binarismo falso que apaga muitas realidades. Como é que vemos a complexidade de ligações, remessas, influências multi-culturais, de alguém que já mora fora do país à décadas, mas volta e depois vai outra vez? Para quem trabalha, o que é este ir e vir e ir e vir? E ao longo do tempo, em que se torna? Com as dez fotografias que estiveram expostas na Portuguese American Gallery, em Washington D.C., consegui dar forma a certas qualidades deste ponto de vista.
Porquê o tema da bissexualidade?
Porque é muito mais do que um dos modelos humanos da atração, é um sistema de pensamento que acho mais livre. É uma fonte com que se pode avaliar condições com respeito a todas as complexidades presentes. Este modo resiste o binarismo, a monosexualidade, e sustenta o meu trabalho. Faz sempre parte da armação conceptual, e por isso não é tema, é algo profundamente estrutural.
O que é mais gratificante para si: Fazer os vídeos ou exibi-los e falar sobre eles em festivais e mostras?
Ambas partes são gratificantes, mas quando alguém sente uma ligação forte com um trabalho e temos uma alta qualidade de entendimento, isso vale muito. E pode acontecer com as pessoas que me relevam o filme E6, ou com um público que veio ver uma mostra.
Pode falar-nos um pouco sobre o filme “Self and Others”?
Foi o primeiro vídeo que fiz numa série que usa formas e gestos da linguagem cinematográfica para agregar uma história visual sobre modos de ver que não vêm do monosexualismo. Até hoje, é o trabalho feito por mim que mais tem corrido pelo mundo, do Brasil à Singapura.
Inevitável no momento que estamos a atravessar perguntar-lhe como está a “sobreviver” a esta pandemia?
Com calma, gratidão, e com mais passeios a pé do que é normal. A dar aulas através de Zoom. Em fins de Fevereiro de 2020 eu estive um mês com o que meses depois soube que era Covid-19. Por isso, tenho prestado mais atenção à saúde. Mas sinto-me bem, e cheia de sorte.
Quais são os seus projetos para 2021?
Voltar a Portugal para completar uma curta metragem que comecei a filmar em Portugal em 2018.
Pensa regressar a Portugal?
Sim, muitas vezes.
Qual é o seu maior sonho?
Desenvolver projetos culturais num centro artístico na zona onde cresci, e ultrapassar os 100 anos com boa disposição.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
A arte sustenta-nos de várias maneiras, mas como ritual público, a arte sempre nos deu espaço para participar melhor no projeto humano. Por isso, não desmoralizem e sigam o que acham mais importante neste momento, neste lugar.
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