Rastreios em saúde

Os rastreios em saúde, que nos permitem uma deteção precoce de patologias, têm um papel relevante no combate às doenças e na melhoria da saúde das populações. Os rastreios são processos de investigação médica, que nos permitem descobrir patologias em fases iniciais, diminuindo assim a morbilidade e a mortalidade, o que se traduz num enorme e relevante impacto na saúde das comunidades. O rastreio pode ser uma mais-valia para a saúde individual, mas é igualmente de uma enorme e vital importância em termos de saúde pública. Nos programas de rastreios a população é convidada a realizar rastreio através de um programa específico, reduzindo o risco de doença e ou das suas complicações. Concomitantemente à realização do rastreio é fundamental a comunicação, quer nos esclarecimentos de dúvidas, quer na prestação de informações sobre as eventuais patologias objeto do rastreio. O rastreio é um processo que utiliza testes em larga escala para identificar a presença de doenças em pessoas aparentemente saudáveis. Os testes de rastreio determinam a presença ou ausência de um fator de risco, o que requer acompanhamento individual e tratamento. Em 2018 a Organização Mundial de Saúde (OMS) adotou como definição de rastreio a “identificação presumível de uma doença, em indivíduos numa população aparentemente saudável e sem sintomas, por meio de exames ou outros procedimentos que possam ser aplicados fácil e rapidamente. O rastreio é destinado a todas as pessoas, numa população alvo identificada, que não apresentem sintomas da doença ou condição, sendo assim rastreada. O processo pode identificar uma anomalia, pré-doença, doença precoce ou marcadores de risco de doença”.


O rastreio deve apresentar grande rigor, precisão e capacidade para replicar os mesmos resultados quando repetidos várias vezes, para que haja identificação das pessoas que têm a doença e a exclusão das que não a possuam, isto é, alta sensibilidade e alta especificidade. O programa de rastreio deve possuir evidência científica da sua eficácia, ter uma clara definição dos objetivos e benefícios esperados para a saúde da população, assegurar a igualdade na acessibilidade, respeitar a confidencialidade e o direito de opção de cada indivíduo a participar ou não no rastreio.
O encorajamento da população a participar nos rastreios é a primeira etapa a cumprir nestes processos para que se possam atingir resultados nomeadamente na redução da mortalidade e da morbilidade das doenças. O impacto dos rastreios, estando diretamente relacionados com os fatores socioeconómicos, com a literacia na saúde e com o ambiente sociocultural, apresentam diferentes problemáticas. Em sociedades mais desenvolvidas, com maior consciencialização e com maior acessibilidade aos cuidados médicos, existe uma maior deteção de doença em fases iniciais, enquanto nos países menos desenvolvidos o diagnóstico de doença é feito mais tardiamente. No entanto, é muito importante clarificar e salientar que um rastreio deve ser universal e dirigido a todos os indivíduos da população alvo, bem explícita e bem definida, sem qualquer restrição de ordem económico-social, cultural, geográfica ou quaisquer outras. No que respeita aos programas de apoio e intervenção no caso de resultados positivos nos rastreios, que devem ser parte integrante dos programas de rastreios, as suas existências são um claro imperativo da ética médica. A avaliação dos resultados obriga a uma clarificação e confirmação diagnóstica e encaminhamento médico para tratamento, vigilância e controlo evolutivo. A existência de falsos positivos e de falsos negativos, obriga à investigação detalhada e exaustiva para uma clara evidência ou inexistência de doença e tem sempre de ser considerada apesar de a frequência destes resultados serem cada vez menores, dado a evolução crescente no rigor nos programas e na implementação dos rastreios. Do mesmo modo, a constatação de eventuais danos psicológicos e/ou físicos não deixam de ser percecionados, ou descorados no decorrer de alguns programas. Apesar do descrito acima, temos de realçar que os benefícios são indiscutivelmente muito maiores que os eventuais danos, quando consideramos os rastreios, pelo que o investimento no aperfeiçoamento destes programas é em concreto uma abordagem prioritária.

Atualmente em Portugal o Programa Nacional de Diagnóstico Precoce (PNDP), que teve início em 1979, com o rastreio neonatal sistemático que permite identificar nomeadamente dezenas de patologias metabólicas de grande morbilidade e mortalidade se não forem tratadas atempadamente, tem uma cobertura de 100% dos recém-nascidos. Rastreios na gravidez ou rastreios como o do cancro da mama, cancro do cólon do útero, cancro do cólon e reto, tuberculose, o rastreio da saúde visual infantil, da retinopatia diabética ou de rastreios cardiovasculares e medições de vários parâmetros bioquímicos, de infeção por VIH, VHC e VHB, de osteoporose, ou de doença pulmonar obstrutiva (DPOC), nas farmácias comunitárias e ou nos laboratórios de patologia clínica, entre outros, são uma realidade no vasto leque de rastreios à população. É de realçar o crescente papel dos questionários como forma de deteção precoce em variadas patologias. No entanto, a ainda baixa adesão aos rastreios, prende-se com a baixa literacia em saúde, não sendo reconhecida a importância e os benefícios dos rastreios, bem como acresce a ansiedade e o receio na realização de alguns exames como a colonoscopia.
A deteção precoce de diferentes patologias está em permanente evolução. Procura-se uma maior segurança, um menor número de danos, um menor número de falsos positivos e de falsos negativos, uma maior qualidade e rigor em todo o processo dos programas, com acompanhamento e avaliação a longo prazo dos resultados dos rastreios, e de uma forma global uma análise crítica na realização dos rastreios a par de um maior investimento na formação de todos os profissionais de saúde.
As estratégias na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida, passam pela prevenção primária através da redução dos fatores de risco, pela prevenção secundária através do diagnóstico precoce e tratamento adequado e pela prevenção terciária através da reabilitação e reinserção social e na qualidade da prestação dos cuidados de saúde.
O aumento do investimento na continuação e em futuros rastreios, quer sejam em meio hospitalar, em cuidados primários de saúde, em contexto de saúde pública ou em farmácias da comunidade, é desejável e fundamental na promoção da saúde.
Ultrapassar constrangimentos, garantir a efetiva participação da comunidade, caminhar na eliminação das mortes preveníveis e prematuras, proteger as populações com maior vulnerabilidade continuando a aumentar a esperança e a qualidade de vida, investindo igualmente na melhoria da literacia em saúde e na redução dos fatores de risco, deve ser um compromisso em todas as ações a desenvolver e a implementar nos planos, estratégias e programas de saúde.

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