Sandra Ribeiro

Desportista de Alta Competição, empresária de Alta Performance

Perfé-O

Filha de pais cabo-verdianos, Sandra Ribeiro é uma desportista de alta competição que participou nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, representando Portugal, na modalidade de salto com vara.
Nasceu em Lisboa e aos cinco anos foi com os seus pais para França, em Paris, onde fez o seu percurso escolar e obteve uma Pós-Graduação em Direito do Desporto na Universidade de Paris, Panthéon Sorbonne. Sandra Ribeiro é uma mulher humana, dinâmica, perseverante, criou a sua empresa Perfé-O em 2017 com a sua irmã, Maria Ribeiro que participou também nos Jogos Olímpicos, de Londres em 2012 e no Rio em 2016, sempre na modalidade de salto com vara.
Ambas quiseram dar continuidade no desporto ao aconselhar, acompanhar, apoiar atletas, dar formação aos jovens, encorajá-los porque afinal o desporto é uma escola de vida que permite fortalecer o mental para não abandonar. O sucesso passa por esse caminho.


Podia falar da sua empresa e explicar a escolha do nome «Perfé-O»?

Perfé-O vem da palavra «Performance», em França, aquando a criação da empresa, verificámos uma tendência em colocar no final dos nomes das empresas «O», seguimos essa onda e deu «Perfé-O». A empresa possui três componentes, a Perf’Conseil que tem como objetivo ser a referência na formação e no acompanhamento dos desportistas de alta competição na aprendizagem da gestão de carreira deles, temos Perf’Event, a ideia é descobrir o desporto em qualquer lugar, muito nas escolas, da escola primária até à Universidade, por exemplo, a esgrima, a boxe, o salto com vara…chegamos com o nosso material, instalamo-nos e começamos a dar a aula de desporto.
Perfé-O tem uma rede de mais de 600 desportistas de alta competição, entre eles grandes campeões em todas as modalidades, assim, a empresa propõe sessões desportivas com campeões, uma mais-valia para qualquer evento que se organize em qualquer sítio.
Depois em 2018, a Perf’Elite veio complementar as duas primeiras componentes mas é mais uma forma de associação, são fundos de dotações, o intuito é angariar fundos, obter patrocínios, encontrar mecenas, redistribui-se depois aos campeões, efetivamente um estudo pareceu em França revelando que desportistas viviam com menos de 500€ por mês. A atividade dos Fundos de Doações age perto dos atletas de alta competição. Os fundos acompanham financeiramente e materialmente os desportistas e desportistas paralímpicos promissores. Cada desportista pode apresentar a sua candidatura na nossa plataforma e cada empresa pode apoiar os futuros atletas.

A Sandra participou nos JO de Pequim. Como se prepara mentalmente uma atleta?

Era seguida por uma psicóloga, não inicialmente porque não tinha consciência que precisava mas quando integrei o Instituto Nacional de Desporto que é a escola de campeões cá em França, recorri a um mental coach para ter mais confiança e sentir-me mais forte. Hoje enquanto empresária, continuo a trabalhar o meu mental porque o mundo empresarial é dificílimo e convém ser acompanhada por um profissional. Alinhar a mente com o corpo é fundamental.

Passou de desportista de alta competição a empresária na área do desporto. Como deu esse salto? Existem correlações entre ambas as atividades?

Em casa, os meus pais privilegiavam os estudos antes do desporto, nunca sonhei em ser campeã, para mim, o desporto é uma paixão, diria mesmo um jogo, orientei-me nos estudos do Desporto porque desde cedo sabia o que queria fazer, acompanhar desportistas na gestão da carreira deles, como gerir o tempo, a imagem, etc, não pensava em criar empresa inicialmente, aliás, trabalhei no banco, o que me permitiu adquirir conhecimentos nas finanças, essa experiência foi profícua, depois foi a minha irmã que veio me desafiar propondo a criação da nossa empresa para o acompanhamento dos desportistas ja que tínhamos ambas experiência para tal. O desporto de alta competição é principalmente algo que se trabalha muito com perseverança, tenacidade, faz-se a reprodução constante do mesmo movimento que nos leva a esse talento, não é algo inato, um pouco como uma empresária que deve seguir os mesmos valores, os mesmos códigos do mundo do desporto para alcançar o objetivo de volume de negócios.
Quando vou negociar contratos, aplico técnicas do mundo do desporto, por exemplo, antes de me encontrar com alguém, inspiro e digo « ALLEZ », sei que estou pronta.

Maria Ribeiro e Sandra Ribeiro

Quais são os conselhos que daria aos futuros atletas que vão participar nos JO de 2024 em Paris?

Temos que acreditar nos nossos sonhos, tudo é possível, tomar consciência que haverá dificuldades, sem abandonar, vamos de experiência em experiência, a palavra « falhar » é substituída por « experiência », ter uma linguagem positiva é fundamental. Atualmente fazemos formação para jovens que abandonaram a escola, temos um ateliê que demora duas horas, contamos a nossa história, explicamos o nosso percurso, o nosso sucesso e palavras como trabalho, perseverança, confiança em si vêm regularmente no discurso, como pensar, gerir emoções, tudo isso faz parte de um processo e caminho para atingir sucesso, chamamos a atenção que tudo parte deles, basta crer em si e nunca abandonar.
Acompanho hoje atletas para os JO de Paris principalmente na procura do financiamento para que possam preparar serenamente os seus projetos. O desporto de alta competição é caríssimo, tem vários custos, o alojamento, médicos, comida, além do custo dos estudos, por isso, precisamos de patrocínios.

Uma mensagem para a comunidade lusófona.

O desporto faz sonhar mas atrás deste sonho não se vê o sacrifício todo e o trabalho realizado pelos desportistas para conseguirem, ser indulgente é importante porque quando se ganha, toda a gente apoia mas quando se perde há menos apoio e é precisamente neste momento que se deve encorajar mais os desportistas que fiquem tristes quando não atingiram os seus objetivos, convido todos os lusófonos em apoiar os nossos campeões, encorajá-los porque precisam dessa força, quando estamos num estádio, não é unicamente a nossa família mas todo o público que dá essa energia tão importante para nós.

Maria Ribeiro e Sandra Ribeiro

Quais são os seus projetos, as suas expectativas para o futuro?

Hoje tenho um projeto em Cabo Verde porque é um país muito dinâmico em termos de turismo, estou nas obras neste momento para transformar apartamentos em airbnb, quero implementar um projeto para daqui cinco a dez anos propor essa oferta para o futuro, fazer descobrir aos turistas ilhas paradisíacas, de barco, e vim também para recolher informações perto das autoridades locais, conhecer as normas e legislações da autoridade marítima, estou a aprender porque isso tudo é novo para mim.
Com a minha irmã Elisabete criámos a associação em França « Cap Vers les Etoiles », um projeto humanitário organizado também com o atleta francês, Jean Galfione, especialista do salto com vara e campeão olímpico em 1996, em Atlanta, temos igualmente a participação do atleta Sébastien Homo, o meu marido; Elisabete virá cá em outubro com dez jovens franceses para ajudar na realização de uma horta. A associação « Cap vers les étoiles » trabalha no sentido de tornar acessível as modalidades olímpicas e paraolímpicas aos jovens que fiquem mais à margem ou afastados do desporto enviando o material desportivo e escolar necessário. Há mais de dez anos, com as minhas três irmãs, Elisabete, Sandra e Maria, criámos a escola cá para que as crianças não façam muitos quilómetros para terem acesso à educação, o nome da escola é Alcinda Sanches Tavares, à memória da nossa mãe.

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