Um convite do outono à doçura da vindima

A tradição das vindimas em Portugal (uma breve contextualização)

Certamente que sabe que neste mês nos despedimos do verão e abraçamos uma nova estação: outono. Com esta, além das paisagens naturais marcadas pelos tons quentes e pelas folhas que caem e preenchem os passeios, chega igualmente o período para a colheita de tudo o que já amadureceu, em particular das videiras. A cultura da vindima carrega uma história longa em Portugal, assumindo pois, um papel determinante na etnografia do país. Durante muitos anos tratou-se de um momento de celebração, no qual homens e mulheres trajados a rigor, se reuniam para a atividade acompanhada de ranchos folclóricos e canções típicas. E, se, atualmente a vindima já não se trata de uma enorme festa, os sentimentos de união e convívio mantêm-se, assim como o gosto pelo contacto com a natureza. Diria que é praticamente impossível falarmos de Portugal sem ser feita uma menção aos vinhos, para tal, viajarmos por algumas das terras onde se pratica esta arte torna-se a decisão perfeita para realmente conhecermos as vindimas.

Começamos com uma empresa familiar de renome, testemunhada pelo seu enólogo de referência – Paulo Nunes, no que diz respeito à produção de vinhos nas regiões do Douro, Trás-os-Montes e mais recentemente Alentejo: Costa Boal Family Estates. Herdeiro de uma família de viticultores estabelecidos no Douro há mais de 150 anos, António Boal investiu na expansão do seu domínio com novas vinhas e empenhou-se na revitalização e requalificação (em 2014) da antiga adega da sua família, com vista a preservar um legado patrimonial único. Na região do Douro e berço desta entidade, com a já mencionada adega antiga, presenciam-se lagares tradicionais de granito, onde se pisam a pé as uvas dos vinhos de destaque, como é o caso do Vinho do Porto Centenário da Costa Boal. Este Tawny oriundo das vinhas velhas do Douro, não foi refrescado há pelo menos três décadas. Mantido em pipas de carvalho até à data de engarrafamento (2019) este tesouro vai impressioná-lo com uma secura e acidez aliadas a uma intensidade aromática que persevera no ambiente muito para além do período de consumo.


Aqui podem encontrar quatro quintas da empresa: Quinta dos Tojais (Cabêda, Alijó), Quinta do Sobredo (Vila de Maçada, Alijó), Quinta Vale de Mouro (Foz Côa) e Quinta da Pia (Porrais, Murça). Para Trás-os-Montes predomina a diversidade, desde a recuperação de vinhas históricas centenárias, como a de Miranda do Douro até a um moderno centro de vinificação em Mirandela, provido de alta tecnologia, com sala de envelhecimento do vinho em barrica, linha de montagem e expedição. Destaque para o vinho Palácio dos Távoras Grande Reserva Tinto, proveniente da Quinta dos Távoras em Mirandela. Este topo de gama tinto é mais um Grande Reserva, das vinhas velhas, caraterizado por ser um vinho de corpo cheio, boa acidez e boa complexidade aromática. Estagia durante 14 meses em barricas novas de carvalho francês. Por fim, para o Alentejo, sobressai o seu “terroir” muito particular, com Estremoz a demonstrar a sua qualidade de vinhos. Da Quinta dos Cardeais saem verdadeiras relíquias, tais como o Monte dos Cardeais Escolha Branco, um vinho diferenciador tanto pelo seu volume como pelo seu aroma, que lhe confere uma enorme versatilidade para mesa. Estagia em inox com barras finas que lhe atribuem a estrutura.

Seguimos para o palco das vindimas, para quem deseja participar ativamente e ter um contacto direto com as mesmas: a Quinta da Pacheca! Com cerca de 75 hectares de vinhas próprias plantadas no Património Mundial da Humanidade, classificado pela UNESCO em 2001, a Quinta da Pacheca foi uma das pioneiras na região a engarrafar vinhos DOC sob marca própria, pelo seu foco constante e insistente na produção de vinhos DOC do Douro e do Porto de qualidade. A par desse foco, o início do projeto do enoturismo tornou possível a realização de visitas guiadas à propriedade e venda dos seus vinhos, bem como a inauguração do “The Wine House Hotel Quinta da Pacheca” em 2009. Sem dúvida que tem que visitar este hotel e usufruir da possibilidade de dormir literalmente em pipas gigantes – “Wine Barrels”, que lhe vão dar a completa vivência rural! Este espaço disponibilizar-lhe-á portanto uma oferta turística alargada, o que o torna num destino de excelência. Para as vindimas conta então com 3 possíveis experiências: a 8 de setembro, “Harvest Experience”, que consiste num dia inteiro de colheitas, com pequeno-almoço, apanha das uvas, almoço, prova de vinhos e lagarada (pisar as uvas), e o custo de 85 € por pessoa; a 6 de setembro, “Tradicional Grape Stomping + Wine Tasting”, que se trata de uma visita guiada com direito a prova de vinhos e novamente a lagarada, pelo custo de 30 €; e a 5 de setembro, “Tradicional Grape Stomping + Wine Tasting + Traditional Dinner”, que lhe leva em mais uma visita guiada, prova de vinhos e lagarada, com a adição de um jantar tradicional, pelo custo de 60 €. Não se esqueça que estes eventos são têm bastante afluência, por isso faça o quanto antes a sua reserva!

Agora, se é um amante de experiências sobre os carris, vai adorar a iniciativa da CP – Comboios de Portugal! O evento “Festa das Vindimas do Douro” (dias 10 e 24 de setembro) leva-o num comboio especial em carruagens de 1ª e 2ª classe, no percurso Porto Campanhã/Pinhão e Régua/Porto Campanhã, com partida às 08h00 e regresso pelas 20h16. Para adulto em 1ª classe o custo é de 79,50 € e em 2ª classe é de 75 €. Para criança (4-12 anos) em 1ª classe o custo é de 43,50 € e em 2ª classe é de 39 €. Vai ficar a conhecer a histórica Quinta da Avessada, com 160 anos de existência, que foi a primeira da região a plantar a casta Moscatel Galego, e por conseguinte, a produzir o Moscatel de Favaios. Com este evento pode usufruir de degustações, música popular, almoço regional, provas documentadas e inclusivamente fazer parte do processo das vindimas! Garantimos-lhe que vai ser um dia a recordar na sua vida!
Uma larga maioria de nós passa todo o seu tempo nas cidades, a trabalhar, passear, estudar…as vindimas são uma excelente oportunidade para escaparmos a essa rotina e contribuirmos para uma das mais belas tradições portuguesas. Por isso, já sabe o que vai fazer este mês! Encontramo-nos numa das quintas à sua escolha!


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