Kátia Semedo
Nasceu em São Tomé em 1994. Kátia Semedo é o resultado mais palpável, da interação profunda entre santomenses e cabo verdianos transmitida de geração em geração. A voz de Kátia Semedo é uma emanação da melodia “Kem Mostrabo és Caminho Longe pa São Tomé” de Cesária Évora. Os avôs paternos de Kátia Semedo descobriram o caminho longe para São Tomé como serviçais contratados na década de 50 do século XX, para trabalhar nas roças de cacau de São Tomé. Os avós maternos são nativos de São Tomé. A união entre o pai de origem caboverdiana e a mãe fôrro de São Tomé, gerou a voz que no século XXI canta “Caminho de São Tomé”.
Em 2005 ganhou o concurso de pequenos cantores promovido pela embaixada de Cabo Verde em São Tomé e representou a diáspora cabo-verdiana na gala internacional de pequenos cantores que teve lugar na cidade da Praia-Cabo Verde.
Como nasceu o sonho de ser cantora?
Sinceramente não sei. Não houve um acontecimento em concreto que me fez despertar o interesse pela música. A conexão com a música, já nasceu comigo. Ela faz parte de mim, desde que me entendo como pessoa. Mas lembro que por volta dos meus 6/7 anos de idade(se a memória não me falha), passava na RTP um programa chamado Operação Triunfo. Eu adorava tudo aquilo. Era mágico. Os artistas participantes, os jurados, o palco a plateia. Eu imaginei viver tudo isso um dia. Esse programa fomentou o meu sonho de ser cantora.
Foi necessário sair de São Tomé para concretizar esse sonho? Porquê?
Foi no meu País natal que fiz as primeiras tentativas de cantar para o público. Aos 10 anos participei do meu primeiro concurso de música. Fui vencedora e o gosto pela coisa ia crescendo a cada experiência. A decisão de sair de São Tomé envolveu outras questões, mas também levava na bagagem a vontade tremenda de realizar o meu sonho de menina¬’’ cantar, cantar e cantar’’. Em 2005 após ter conhecido Cabo Verde ’’terra de vovó’’ pela primeira vez, pareceu que tudo se encaixava e que era a ferramenta que procurava para desenvolver o meu campo musical. Desta forma, passados 9 anos, em 2013, quando resolvi mudar para Cabo Verde, percebi que na terra de Morabeza eu tinha maiores chances de ser o que eu sonhava ser.
Quais são as suas principais influências musicais?
Na minha infância eu ouvia muito a dupla Brasileira Sandy e Júnior, Celine Dion, Cesária Évora, Ildo Lobo, Bana, Tito Paris, Lura, Nancy Vieira. Ouvia cantores Nacionais como João Seria que predominava a nossa play list em casa , Pepê Lima, Kalú Mendes, Guilherme Carvalho, Juca, Aylton Dias e entre outros.
Foram importantes as suas participações nos concursos musicais para a sua carreira?
Sem dúvida. Ter tido a oportunidade de participar da gala internacional de pequenos cantores em 2005 (Cabo Verde), do Concurso Revelação Vozes da Diáspora 2011 (Portugal) e 2013 (Luxemburgo) e entre outros concursos de vozes em São Tomé e Cabo Verde foram cruciais para o meu crescimento como artista.
Essas participações serviram para eu me descobrir e amadurecer o espírito artístico que há dentro de mim. Experiências únicas que lavarei para toda a minha vida.
Recentemente disse à agência Lusa que “quer voltar a conectar a relação musical entre São Tomé e Cabo Verde”. É uma missão? Quais são os seus objetivos?
Eu penso que a ligação entre São Tomé e Cabo verde transpassa a questão histórica e cultural. Essa interação tornou-se também carnal e espiritual. A prova disso, sou eu. Mas sim, porque não. O restabelecimento destas culturas musicais só traria benefícios para todos. E se depender de mim, tudo farei para que o mesmo aconteça.
Sente-se mais cabo-verdiana ou são-tomense?
Sou uma santomense cabo-verdiana. Corre nas minhas veias o sangue e a história destes dois países. Portanto, eu sou apenas eu e carrego comigo a bandeira destes dois Países que para mim são irmãos .
Lançou recentemente o disco “Caminho de São Tomé”. O que representa este seu novo trabalho?
“Caminho de são Tomé” representa a minha história. Essa história que começou desde a partida dos meus avós contratados de Cabo Verde para São Tomé e em contrapartida a minha vinda para Cabo Verde. Contextos diferentes mas que se encaixam harmoniosamente e que é representativo para uma boa parte de cabo-verdianos que tiveram que imigrar.
Abandonou a enfermagem para se dedicar exclusivamente à música. É possível viver apenas da arte?
A palavra abandonar é muito forte. Não abandonei. Apenas tracei caminhos que não permitem que a enfermagem ande de mãos dadas, pelo menos por enquanto. Ela é uma arte e como tal, também exige muita dedicação e disposição. Viver apenas da música nos dias de hoje é muito difícil, para não dizer quase impossível. Principalmente para aqueles que escolheram uma carreira voltada para a música tradicional.
Quais são os seus projetos para 2024?
O EP “Caminho de São Tomé’’ é novo e por isso ainda estamos centrados na sua maior divulgação com previsão de concertos dentro e fora do País . Mas é claro que temos no forno novidades que podem vir a ser lancadas neste Verão, espero eu.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
“Lutemos pelo que nos faz sentir vivos e livres”.