Andrea Nunes

Andrea Nunes nasceu e foi criada em Nova Jérsia, nos Estados Unidos, filha de pais portugueses, ambos naturais da região da Serra da Estrela, em Portugal. A sua educação foi uma mistura da cultura americana com as ricas tradições portuguesas, transmitidas pela sua família e pela vibrante comunidade que a rodeava. Ela sempre esteve e continua profundamente ligada às suas raízes portuguesas e, ao crescer, cultivou essa ligação através do seu envolvimento na comunidade local. Crescendo, Andrea sentia-se, por vezes, dividida entre dois mundos: o mundo em que os seus pais cresceram e o mundo que ela tentava navegar por conta própria. Nesses momentos, ela recorria à escrita como uma forma criativa de expressar os seus pensamentos e emoções. Em 2020, isso resultou na criação de uma série de livros bilíngues destinados a ensinar português a crianças pequenas. Foi assim que nasceu a série de livros “Stella Learns Portuguese.”

Como e quando nasceu a paixão pela escrita?
Sempre adorei escrever histórias ainda como criança e, quando entrei na adolescência, a escrita, especificamente a poesia, tornou-se a minha forma de expressar emoções. Grandes emoções. Felicidade, tristeza, raiva, amor. A poesia sempre foi o meu estilo de escrita preferido devido à estrutura rítmica. Gostava de criar profundidade rítmica através das minhas palavras.
Quem é Andrea Nunes, a autora de “Stella Learns Portuguese”?
Andrea Nunes é mãe, filha, neta. São essas as identidades que estão sempre presentes quando escrevo as minhas histórias. Nasci e cresci em Nova Jérsia, embora tenha passado a maior parte dos verões em Portugal com os meus avós. Sempre estive muito envolvida na comunidade portuguesa à minha volta em Nova Jérsia. Participei em danças de rancho, no desfile do Dia de Portugal e noutras atividades. Essas eram formas de me manter próxima das minhas raízes e da família que tanto amava, mas que não estava fisicamente perto. Guardei com carinho as memórias dos meus verões, desejando a cada aniversário e Natal que os meus avós e a minha família de lá estivessem comigo. Quando me casei, sabia que levar essa identidade e essas experiências comigo era essencial. Quando me tornei mãe, os meus mundos colidiram… O mundo que eu recordava da minha infância e o mundo que queria que os meus filhos também vivenciassem… não só as experiências, mas vivê-las ao lado das pessoas mais importantes.
Encontro a maior felicidade em passar tempo com a minha família e criar de várias formas, seja através da escrita ou de projetos de melhoria da casa.





Os seus livros são escritos em inglês com alguma palavras em português. Qual é a sua intenção?
A minha intenção era ensinar português um pouco de cada vez, de uma forma divertida. Quando a minha filha começou a falar, o inglês foi a sua primeira língua. Se eu tivesse escrito tudo em português, teria sido difícil para ela entender. Encontrei uma forma de incorporar algumas palavras em português nos versos de cada página. Através das pistas contextuais na ilustração, ela conseguia adivinhar o significado da palavra. E, devido ao ritmo da história, conseguia memorizá-la como se fosse uma canção. Foi assim que a ideia nasceu.
Como tem sido a aceitação do público?
O público adora as histórias. A minha audiência é composta principalmente por outros pais com experiências semelhantes… nascidos nos Estados Unidos ou no Canadá, com filhos que falam principalmente inglês, mas com o desejo de lhes ensinar algumas palavras em português.
Também partilham experiências parecidas, tendo passado tempo com a família em Portugal, e identificam-se com o sentimento por trás do nascimento destas histórias.

Como é o seu processo criativo? Como escolhe os temas e desenvolve a ação?
O meu processo criativo começa por escolher um tema para a próxima história. Depois, pego nesse tema e faço uma lista de palavras que devem ser incorporadas. Por exemplo, em Stella at the Praia, fiz uma lista de palavras relacionadas com um dia na praia.
A partir daí, começo a escrever cada verso, um de cada vez. E depois volto a reescrevê-los. Quero garantir que os versos têm ritmo e que as palavras em português se encaixam bem neles.
Quando tenho uma versão final, entrego a história à minha ilustradora e trabalhamos juntas para definir o objetivo de cada ilustração em cada página.
Os primeiros dois temas foram dedicados ao tempo passado com os avós. Depois disso, escolhi temas com base em outras boas memórias ou eventos relevantes na vida da minha filha, como o início da escola.
A estrutura rítmica permite a fácil memorização dos seus livros. Seguiu este caminho pelo facto de ser um público infantojuvenil?
Sim, absolutamente. Esse foi um dos meus maiores fatores motivadores. Muitas crianças, incluindo eu mesma quando era criança, têm mais facilidade em memorizar através da música.
Eu sabia que esta seria uma ótima forma de ajudar a memorizar as palavras incorporadas nos versos.
Os seus livros e toda a sua comunicação nas redes sociais, são um reflexo do seu amor às suas origens. Tendo nascido em Elizabeth, NJ, como manteve esta ligação a Portugal?
Eu viajava para Portugal na maioria dos verões e passava as férias escolares com os meus avós, que ainda vivem lá. Passava os meus dias com eles, divertia-me com os meus primos e entrava e saía das casas dos meus tios e tias. Eu adorava. Era tudo o que não tinha nos Estados Unidos.
Poder respirar o ar puro, colher legumes da horta e divertir-me genuinamente com esta grande família alargada, que não fazia parte do meu dia a dia, enchia-me de uma alegria indescritível. Foi essa emoção que inspirou o primeiro livro, Stella in the Vila. Quando voltava para Nova Jérsia, os meus pais e a minha outra avó faziam questão de falar sempre português, e as nossas refeições eram portuguesas. Também ajudou o facto de vivermos numa comunidade com muitos outros luso-americanos, onde podíamos participar em várias atividades juntos.


As ilustrações dos seus livros são magníficas! Como foi a escolha da ilustradora Mariana?
Muito obrigada! A Mariana foi uma das melhores conexões que fiz nesta jornada de escrita e hoje é uma grande amiga. Na verdade, comecei a minha série com outra ilustradora. A certa altura, devido às complicações da pandemia, ela não conseguiu continuar a trabalhar nas histórias. Eu estava a meio do meu segundo livro e não sabia para onde me virar para dar continuidade ao processo. A Mariana conseguiu pegar no trabalho onde tinha ficado e continuar a dar vida à série. O mais importante, além de ela ser uma pessoa fantástica e uma artista verdadeiramente talentosa, foi o facto de entender a língua e também viver em Portugal! Isso fez com que as histórias fossem, de facto, uma colaboração transatlântica!
Assume-se como uma embaixadora da língua portuguesa nos EUA?
Com certeza, tento ser! Aqui na América, falamos inglês o dia todo no trabalho, os nossos filhos falam inglês na escola e geralmente aprendem francês ou espanhol, e os nossos vizinhos (caso não vivamos numa comunidade com outros falantes de português e negócios portugueses) falam connosco em inglês. Ensinar a língua é um verdadeiro esforço. Não é tão natural como antes, quando a avó morava ao lado e cada vizinho era português. É preciso dedicar tempo para fazer o esforço de transmitir não só a língua, mas também as tradições, ou acabaremos por nos perder na nossa rotina diária, correndo o risco de um dia nos afastarmos disso. Continuo todos os dias a tentar fazer o meu melhor para manter as nossas raízes vivas e espero que os meus livros possam ser úteis para que outros façam o mesmo.
Pode-nos revelar alguns dos projetos para 2025?
Estou a trabalhar para continuar a minha série de livros e tenho outro projeto especial em andamento em forma de cartões de memória. Continuo a trabalhar em projetos que alimentam a minha criatividade, ao mesmo tempo que nutrem a minha paixão pela nossa herança.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
A minha mensagem para os artistas do mundo é para continuarem a criar. Digo à minha filha, quando chega a casa chateada por alguém questionar a sua arte na escola, “A beleza da arte é a própria que tu crias, e a de cada pessoa é diferente e única. Que diversão teria se todas fossem iguais?”
Usa a criação para expressar as grandes emoções… a felicidade, a tristeza, o amor, a paixão, o medo. Usa-a para mostrar ao mundo quem tu és. Usa-a para honrar de onde vens. E, especificamente para os artistas portugueses, usa-a para mostrar as grandes raízes de coragem, determinação, lealdade, honra e paixão de onde viemos.
