José Henriques e Silva

José Henriques e Silva (1919-1983), engenheiro civil e fotógrafo amador nascido em Lisboa, deixou-nos nas suas fotografias o registo curioso e afetivo dos largos anos em que viveu em Moçambique. Durante esse período documentou assiduamente a comunidade de pescadores Macua, que vivia na Baia de Fernão Veloso, fixando para a posteridade a “memória visual” daquelas populações e do seu quotidiano.
Chegado a Moçambique em 1956, com 38 anos, para trabalhar na construção do Porto de Nacala, participou no início da guerra nas obras da base da Força Aérea Portuguesa. A partir de meados da década de 1960 estabeleceu-se na costa oriental da Baía de Fernão Veloso onde, a par com a sua atividade profissional, desenvolveu o seu trabalho fotográfico.

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No decurso destes anos, entre 1957 e 1973, produziu cerca de 5000 negativos que retratam os habitantes da região, com quem se relacionou através da fotografia num registo de proximidade com os retratados, homens, mulheres, crianças, que olham muitas vezes o dispositivo, posando espontaneamente para o fotógrafo. Tema recorrente são, também, as raparigas e mulheres carregando e amamentando os seus filhos ou usando as máscaras brancas de argila, de fins cosméticos, que colocavam no rosto e cujo contraste com a pele negra criava um efeito plástico marcante, explorado pelo fotógrafo.
Reencontramos o dia a dia da comunidade Macua, na curiosidade etnográfica dos registos dos trabalhos da faina de pesca, dos momentos de descanso, das brincadeiras das crianças, sempre em fotografias de exterior, onde a paisagem dialoga com os retratados e as suas práticas.


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Pouco depois da Revolução de Abril, em 1974, José Henriques e Silva começou a enviar para Lisboa o notável conjunto de negativos que tinha produzido. Com a independência de Moçambique, aí permaneceu, prestando serviços ao novo governo até 1979, data em que regressou a Portugal por apenas dois anos. Em 1981 escrevia: “Nada está completamente concluído, as fotos que foram tiradas… nada dizem daquelas gentes que ficaram bem no meu coração. Que significado tem um determinado adorno? Qual a origem das danças, batuques? (…) Há alguma mensagem contida nesses movimentos?… O que lá ficou por fazer, o que lá está que nunca mais ninguém virá a tomar conhecimento!!!”.
Consciente da importância documental das suas fotografias retornou a Moçambique em 1982, onde continuou a fotografar e a registar informações sobre os pescadores Macua. Pouco depois, uma doença grave forçou o seu regresso a Portugal, onde veio a terminar os seus dias.
Seis meses após a sua morte, em 1983, foram expostas em Lisboa, no AR.CO, quarenta e seis das suas imagens sob o título “Pescadores Macua da Baía de Nacala: 1957-73”.



Em 1998, uma seleção mais alargada das suas fotografias foi apresentada no Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, em parceria com a Comissão Nacional dos Descobrimentos, no âmbito do projeto Culturas do Índico. Nessa ocasião foi lançado o álbum “Pescadores Macua”, fruto da colaboração entre Joana Pereira Leite, depositária do conjunto fotográfico, Michel Waldmann, impressor, e Victor Palla, responsável pela conceção gráfica.
Atualmente, o Arquivo Municipal de Lisboa integra no seu acervo um conjunto de 164 provas em papel de revelação baritado, da autoria de José Henriques e Silva, feitas entre 1957 e 1973. Setenta dessas imagens integraram a exposição “Pescadores Macua”, realizada no Arquivo Fotográfico nas instalações da rua da Palma, entre 31 de julho e 17 de setembro de 1998.Mariana Caldas de Almeida




