O investimento em fundos sustentáveis

Nos últimos anos muito se tem ouvido falar no “investimento em fundos sustentáveis”. Mas, afinal, em que é que se concretizam tais “fundos sustentáveis”?
Os fundos de investimento sustentáveis são compostos por carteiras com características direcionadas para investimentos sustentáveis. Isto significa que, no processo de construção dessa carteira, os fundos têm não só em conta os critérios financeiros dos investimentos que realizam (risco e retorno), mas também critérios não financeiros, procurando conjugar o retorno financeiro com o bem social. Estes critérios não financeiros incorporam os fatores ambientais, sociais e de governo societário (Environment, Social and Governance – “ESG”).
Em setembro de 2015 a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Nesta senda, a União Europeia confirmou o empenho da União e dos respetivos Estados-Membros em aplicar a Agenda 2030 de modo integral, coerente, abrangente, integrado e eficaz e tem, desde então, envidado todos os esforços necessários, através de diversas diretivas e regulamentos, mais recentemente obrigando os intervenientes no mercado financeiro e os consultores financeiros a divulgar informações específicas sobre as suas abordagens em relação à integração dos riscos em matérias de sustentabilidade e à tomada em consideração dos impactos negativos para a sustentabilidade, permitindo aos investidores tomar decisões informadas. O objetivo é impulsionar a economia para um caminho sustentável a partir das suas fontes de financiamento.
Portugal, enquanto membro da União Europeia, não só tem vindo a adotar estas medidas, como tem assistido a um crescente aumento no interesse, por parte dos investidores, pelos denominados fundos ESG. Em dezembro de 2019 estavam registados em Portugal cinco fundos ESG que, em conjunto, administravam cerca de 272 milhões de euros, subscritos por cerca de dezoito mil participantes, sendo a maioria deles pessoas singulares. No entanto, e apesar deste aumento nos últimos anos, o número de investidores em fundos ESG representa, ainda assim, apenas 1,9% dos mais de 950 mil participantes em fundos.

Mas, segundo dados da CMVM, em 2019, estes fundos ESG registaram, para o mesmo grau de risco, rentabilidades comparáveis às de fundos que não possuíam estratégia de investimento sustentável.
Além disso, no final de 2020 foi lançado em Portugal um fundo para projetos inovadores ligados à sustentabilidade (Sustainable Innovation Fund – SIF), que tem em conta a integração dos fatores ESG na análise não financeira das oportunidades de investimento das empresas. O principal objetivo do é apoiar iniciativas e empresas portuguesas disruptivas, com operações distintas, mas com o mesmo compromisso: a sustentabilidade.
Atualmente existem quatro formas de investimento sustentável: (i) estratégia de negative/exclusionary screening, na qual os investidores procuram afastar-se de carteiras envolvidas, direta ou indiretamente, em setores considerados controversos, como o tabaco, armamento, energia nuclear ou o jogo, (ii) abordagem de impacto, nos termos da qual os investidores procuram investir em áreas que contribuem para a concretização de um objetivo, como por exemplo, investimento em energias renováveis ou na agricultura sustentável, procurando desta forma lutar contra o aquecimento global; (iii) abordagem ativa, na medida em que os investidores tentam influenciar as administrações das empresas nas quais o fundo investe, através do direito de voto em assembleias gerais; (iv) e, por último, abordagem positiva dos investidores, na qual os investidores concentram os seus investimentos em empresas incluídas num portefólio sustentável e que cumprem os critérios ESG. Esta última deverá crescer nos próximos anos, uma vez que a regulação ESG é cada vez maior.
Portugal tem acompanhado, assim, embora a seu ritmo, a tendência global relativa ao interesse em investimento em fundos ESG e esta tendência não mostra sinais de desaceleração, pelo que, nos próximos anos, assistiremos a um crescimento destes investimentos.

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