Jean Nunes
Jean Nunes criou o Studio VIBES em 1998, uma escola dedicada exclusivamente à cultura urbana. Ao longo dos anos, organizaram workshops com professores vindos de diversos países para permitir que os alunos dançassem com os seus ídolos do Hip-Hop. Fizeram torneés em Nova York, Los Angeles, Miami, Brasil, Paris e três vezes em Lisboa. Hoje o Studio VIBES conta com 450 alunos inscritos por ano.
O que o levou a viver em Bruxelas?
Os meus pais emigraram para a Bélgica na década de 70 onde eu nasci, em Bruxelas. Quando fiz 1 ano tive que voltar para Portugal onde fiquei a viver com a minha avó até aos 4 anos. Quando a situação profissional dos meus pais melhorou, vieram buscar-me para viver em definitivo com eles em Bruxelas.
Como e quando nasceu a ligação à dança? Conte-nos um pouco do seu percurso profissional.
Desde muito pequeno que eu não gostava da escola e de estar sentado numa cadeira quieto. A minha mãe percebeu desde muito cedo que eu era atraído pelas artes, adorava cantar e representar. Sentia-me bem a ouvir música e dançava o tempo todo em casamentos e festas portuguesas. No final dos meus anos de colégio, abandonei a escola 5 meses após a formatura porque, não era aquele o caminho que queria seguir. Durante 1 ano trabalhei no ramo da restauração, enquanto continuava a dançar com amigos e um coreógrafo muito famoso em Bruxelas que me ia dando alguns conselhos. Um dia, aluguei uma sala para treinar com o meu grupo da época, isto em 1994, e ao voltar lá os donos fizeram-me a proposta para ensinar no seu espaço,“American Gym” e foi aqui que comecei a poder viver da dança e ver esta minha paixão crescer até hoje. Éramos apenas 3 professores para lecionar nas academias oficiais de Bruxelas, porque o Hip-Hop não era muito conhecido.
Como nasceu o projeto da Studio Vibes? Porquê o Hip-Hop?
Foi em 1998 que tudo começou, porque eu procurava uma sala para ensaiar com o meu grupo e os alguns jovens que nos seguiam. Basicamente, eu só queria criar um espaço de ensaio, mas tinha que pagar o aluguer e tive então a ideia de propor a 3 amigos para darem aulas na minha sala. Eu não tinha muito dinheiro e só podia dar algumas aulas por semana pois só queria dar aulas de dança urbana para os alunos. Breakdance, popping Locking, street Jazz e aulas de Hip-Hop de rua. O primeiro ano foi muito difícil porque os pais tinham medo de inscrever os seus filhos, mas com o tempo perceberam que eles adoravam esse estilo de dança e rapidamente tornou-se muito popular em 2000. Comecei a ter mais alunos e inevitavelmente mais estilos e professores na equipa. Passamos de 7 aulas por semana para 18! Foi maravilhoso ver todos os nossos alunos a dançar Ragga, Afro Dance, Breakdance etc … O Hip-Hop sempre me fascinou! Comecei a dançar Breakdance, mas era muito difícil e eu preferia danças com coreografias como Michael Jackson que é para mim uma grande referência na dança. No Hip-Hop tens que trabalhar muito para ter o teu próprio estilo.
Há quase 20 anos atrás inovaram ao iniciar a produção de eventos globais? Que serviços oferecem hoje em dia?
De 1998 até hoje, também criamos um grupo para representar o Studio Vibes e estivemos envolvidos em diversos projetos: Comerciais, shows, festas, já dançamos em mais de 500 eventos diferentes até hoje. Continuamos a oferecer estágios internacionais e novos cursos aos nossos alunos.
Qual foi o maior espetáculo que deram (em número espectadores) e aquele que foi mais marcante para si e porquê?
Tivemos a oportunidade de ser os dançarinos oficiais do MONSTER JAM European Tour, de 2005 a 2009. Dançamos em lugares e estádios magníficos como Paris Bercy, Stade de Barcelona, Holanda, Zurique e até no LAS VEGAS para a final de 2009. A minha melhor experiência foi dançar no Kardiff Stadium (Inglaterra) para 45.000 pessoas.
No ano passado deu uma entrevista em que alertava para a situação dramática que viviam as escolas de dança. Receberam algum apoio do Estado? Como sobreviveram e qual o atual panorama das escolas de dança em geral.
Foi um período difícil para todos e ainda é relevante no momento, pelo menos no que respeita à Bélgica. Temos muitos talentos artísticos neste país, mas infelizmente não são reconhecidos pelo seu justo valor, porque os artistas ainda são vistos como uma profissão não essencial. Foi o que o Governo Belga declarou durante esta pandemia. Várias escolas de dança na Bélgica, (830 no total), não receberam qualquer ajuda financeira e tiveram que lutar para lidar com isso. Quatorze escolas fecharam, porque não puderam aguentar mais. Hoje, muitas pessoas e principalmente os nossos jovens sofrem com esta situação, isolados e sem confiança na escolha do seu futuro. Esperamos que tudo melhore, mas no momento ainda é muito difícil o que estamos a viver na Bélgica.
Acha que é mais fácil ser artista na Bélgica do que em Portugal? Quais as principais diferenças que vê nos dois países no que respeita à cultura?
Portugal está mais aberto e oferece mais propostas e soluções aos seus artistas. Na Bélgica, já temos uma grande desigualdade causada por problemas linguísticos devido a existirem duas línguas no território – o flamengo (Flandres) e o francófono (Valônia-Bruxelas). Para ter sucesso, temos que ir para o exterior e depois voltar para a Bélgica, se tivermos vontade disso…
Quais são os seus projetos para 2022?
Não sei ainda porque neste momento com esta situação estamos a ter dificuldade em nos projetarmos no futuro … Vamos ver, no momento presente vivo o dia a dia junto com a minha família.
Pensa regressar a Portugal?
Gostaria muito porque tenho saudades do meu país e acho que mudou muita coisa em Portugal. O nosso país é sublime e tenho muitas saudades do sol.
Qual é o seu maior sonho?
Morrer no palco. Seria um belo final e e a melhor forma de deixar este mundo.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
A nossa atividade é das mais bonitas do mundo porque compartilhamos a nossa arte com amor e paixão.
Damos sempre o nosso melhor para que as pessoas sonhem e se tornem, por um momento, crianças. Sem guerra, apenas amor … Força para todos.
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