Tutu Sousa
Nascido a 16 de Dezembro de 1974, em São Vicente, Cabo Verde e vive na Cidade da Praia desde os seus 2 anos de idade. Fez, em Lisboa, em 1996, o curso de Edição Eletrónica para Artes Gráficas. Frequentou vários Workshops de arte senegalesa, autodidata no domínio da pintura e da escultura, no seu percurso, contam-se várias exposições individuais e coletivas em várias ilhas de Cabo Verde, e em alguns países europeus, nos EUA e em Macau / China, para alem de realização de dezenas de pinturas de murais e decorativas como nos Aeroportos Internacionais Nelson Mandela na Cidade da Praia e Amílcar Cabral na Ilha do Sal, na Cidade Fort France em Martinica. Ao comemorar 25 anos de carreira, dá início a um projeto pessoal Rua d’ARTE, uma galeria a céu aberto com objetivo de promover a arte e a cultura e também promover a união entre artistas. Foi nomeado Embaixador urbano pela ONU em 2017 pelos trabalhos realizados em prol das cidades. Homem do ano 2017 na Gala Somos Cabo Verde, distinguido com o prémio “África is more” em 2019. Autor do projeto Street Art intitulado “Filhos do Mar” em Terra Branca – Praia 2020/2021.
Como nasceu a paixão pela pintura?
Desde criança fui incentivado pelo meu pai a desenhar, mais tarde comecei a ter contactos visuais nas casas dos meus tios na ilha do Sal, com obras de artistas cabo-verdianos como Kiki Lima, Leopoldina Barreto, isso nas férias escolares e nessa altura fazia exercícios de desenho e pintura comum primo meu que também gostava de desenhar e pintar. Na cidade da praia conhecia os trabalhos do artista Domingos Luísa que na altura tinhas várias obras espalhadas pela cidade e também na sede da OPACV, onde sempre eu frequentava porque ali havia uma pequena biblioteca onde podia encontrar livros de arte. Sempre incentivado pelo meu pai passei a frequentar o ateliê Pé di Polon do artista Mário Rito no Parque 5 de Julho na Cidade da Praia, mas por pouco tempo porque o artista tinha outros compromissos e ficava praticamente sozinho a desenhar e a ver/ler os livros de escultura que havia nos estantes quase sempre desarrumado do ateliê.
Quais foram as principais influências das artes plásticas na sua pintura? Porquê?
As minhas principais influencias foram dos grandes mestres da pintura mundial, DALI, PICASSO, LEONARDO DA VINCI e também dos artistas cabo-verdianos acima referidos, o Kiki Lima a Leopoldina e o Domingos.
Os grandes mestres porque sempre admirei as obras deles e procurava detalhes, movimentos em cada pincelada, muitas vezes tentei reproduzir parte dessas obras numa espécie de investigação técnica, no fundo eram aulas de arte que infelizmente eu não tinha e que sozinho tentei aprender.
É possível para um jovem artista viver só da pintura em Cabo Verde?
Primeiro é preciso ter muita coragem para fazer isso, visto que o nosso mercado é limitado. Para fazer isso é preciso fazer um percurso, ser reconhecido a nível nacional e internacional, entrar nos mercados de arte. Também é preciso fazer um trabalho com identidade próprio, ter qualidade e trabalhar a sua temática, saber conjugar o teu percurso e o valor das tuas obras no teu mercado principal. Também temos que contar com a sorte.
Para que outros artistas possam seguir o seu exemplo, conte-nos como foi o seu percurso profissional até chegar ao reconhecimento e notoriedade internacional?
Eu teria que escrever aqui centenas de linhas (risos), resumo, trabalhei com seriedade, procurei a minha própria identidade artística, antes eu era mais surrealista, fiz retratos, caricaturas, abstrai muitas vezes, fiz murais na cidade da praia, chegou o momento de tirar proveito de todas as fazes do meu percurso aproveitando o facto de também ser design gráfico e simplifiquei os meus traços criando essa identidade que tanto procurei. Com a Street Art a ganhar o seu mercado ficou mais fácil, pouco a pouco fui abrindo caminho para minha internacionalização.
Quais são, para além obviamente da escala e dos materiais a usar, as diferenças entre uma pintar uma tela e um mural? Em qual dos suportes acha que o seu trabalho artístico se revela mais e qual lhe dá mais prazer em pintar?
Pois além dos materiais são as técnicas, saber tirar proveito dos diferentes suportes. Adoro fazer murais, pena que a sua durabilidade é limitada, é triste ver um trabalho a perder com o tempo por isso prefiro as telas.?
Há uma procura constante de representar nas suas obras a cultura cabo-verdiana. É uma forma de dar a conhecer ao mundo, Cabo Verde e as suas gentes?
Sim, é natural essa representação é basta ver de onde sai a minha inspiração, na música, no mar e na mulher.
A música porque me acompanha e todas as fazes da minha vida, quando eu tinha os meus 14 anos queria ser músico, aprendi um pouco do piano, da guitarra, percussão, amo a morna o funaná e o batuque, mas também a boa música mundial, do fado o flamengo o reggae, o zouk, o jazz, enfim amo a música. O mar porque Cabo Verde é um arquipélago assim como os Açores e a Madeira. A mulher que me deu a luz e que me seduz.
Um dos seus projetos passa por lançar uma escola de Arte. Está para breve esse projeto?
Tenho pensado muito nisso, mas com essa pandemia que teima em complicar o mundo prefiro deixar para depois disso acabar.
“Rua d`Arte” que é já uma atração turística e um local de visitas de estudo em Terra Branca. Qual foi a ideia inicial e como se transformou num local de visita obrigatória?
Inicialmente a ideia era transformar a rua numa galeria de arte a céu aberto, aos poucos foi ganhando a sua visibilidade então apresentei a Câmara Municipal da Praia a ideia de a transformar numa Rua pedonal e foi aceite, hoje a rua tem um nome “Rua d’Arte” e ganhou o seu destaque na cidade com varias visitas diárias através das agências de turismo e não só.
Fale-nos um pouco da Gallery Art Tutu Sousa, os seus objetivos e o futuro que espera para a galeria.
Sempre sonhei ter a minha própria galeria de arte porque fazia falta na cidade, as poucas galerias existentes sempre apresentaram algumas limitações seja ela com a localização, a administração ou a visibilidade, então aproveitei o facto de a minha casa estar localizado na Rua d’Arte, e transformei o Rés do chão numa galeria de arte com objetivo de promover a minha arte e também a arte de outros artistas nacionais e não só. Aqui já fizemos várias atividades, com crianças, com idosos, com os grandes nomes da nossa música, com a dança, a escultura, a cerâmica, enfim sempre com esse propósito de promover artistas e arte.
Projetos para 2022?
Para 2022 procuro alcançar novos mercados da arte mundial, tudo vai depender da pandemia, mas acredito que vou conseguir.
Qual é o seu maior sonho?
O meu maior sonho é ver a paz no mundo, um mundo igual para todos.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
Sejamos todos uma única família, a família de artistas. Partilhemos a nossa arte.