Ismaël Sequeira

Palavra ao Associado AILD

Natural da ilha de São Tomé, começou a pintar como autodidata e em 1991 viajou para Portugal com o objetivo de se formar em pintura e escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Fixando a residência permanente em Lisboa, desenvolveu a sua atividade profissional da área de produção multimédia e desenvolvimento de conteúdos para websites, programação e gestão cultural, dedica-se às artes plásticas, colabora como voluntário de associações sócio culturais e profissionalmente é administrativo na função pública portuguesa. É também Diretor Cultural na AILD.

Nasceu em São Tomé e Príncipe mas optou por viver com a sua família em Portugal. Conte-nos como foi tomada essa decisão e como tudo se passou.

A intenção de regresso à terra natal foi um sonho da vida estudantil na fase inicial. Antes de concluir as Belas Artes encontrei o amor da minha vida, as perspetivas alteraram-se de pois da primeira tentativa falhada em 2004. Gosto daquelas ilhas, mas o meu coração está em Portugal. Tenho projetos que levam-me sempre ao meu lugar de matriz cultural e identitária, mas é em Lisboa onde encontrei tudo que sustenta a minha vida familiar e profissional.

A pintura é a sua grande paixão. Como nasceu e cresceu essa paixão?

A longínqua infância deixa memórias de como tudo começou. Todas as crianças são potenciais criadores ou artistas. E só consegue aquele que exercita e não desiste. É percorrendo esta vida motivada pela beleza da natureza e a estética “na pobreza” onde encontro a razão para a reflexão contínua que sustenta até ao presente todo o meu pensamento. Sou nato e um apaixonado por aquele arquipélago do Equador do Golfo da Guiné que fez de mim um artista.

Para além da pintura sabemos que gosta muito de escrever. Já está na calha o primeiro livro?

Não tenho a escrita como uma atividade em que muito apresento publicamente.
Na maior parte das vezes é uma ferramenta de trabalho de anotações das pesquisas que faço no domínio artístico, mas noutras é mais interessante forma de expressão criativa na qual exprimo as minhas ideias ou pensamento em forma de poesia, reflexões ou contos.

Acredito mais na possibilidade de deixar algum manuscrito e alguém se encarregará de fazer livros. Enquanto não me decido, vou fazendo com prazer o belo exercício da escrita. O meu bisavô Marcelo da Veiga dizia muitas vezes que um intelectual não tem propriamente que escrever um livro, mas sim, deixar todo o seu pensamento em memórias que no futuro alguém haverá de publicá-las.
Eu sigo o seu caminho descomprometido com a materialização do meu pensamento e trabalho literário transformado em livro.

Faz parte dos artistas que constituem o projeto expositivo “Obras de Capa”. Como foi participar dessa ideia de criar obras para as capas da Descendências Magazine?

“Obras de Capa” é um projeto da autoria do Jorge Vilela, Diretor da Revista Descendência Magazine, da Associação AILD, que me desafiou em 2019 pata ilustrar as doze capas desta revista em 2020 e aceitei logo convicto de que é um projeto interessante no domínio artístico e empreendedor com grande perspetiva de crescimento. Após a realização da primeira exposição na galeria do Instituto Camões em Lisboa, seguiu-se a itinerância desta exposição com início na cidade de São Tomé no Centro Cultural Português, recentemente em Paris na Casa de Portugal André de Gouveia. Segue para Bélgica em Setembro.
Outro desafio nas “Obras de Capa” é escrever um texto por cada ilustração num olhar positivo sobre a realidade do meu país.
Para além de estar motivado neste projeto para desenvolver outras atividade existe uma outra possibilidade de unir com outros artistas que fazem parte desta nova identidade artística para criar novos projetos e expandir experiências noutras paragens do mundo.

O que pensa sobre a itinerância desta exposição?

A itinerância é a forma mais inteligente de potenciar a promoção artística com marketing direcionado para novos públicos e que estes contribuam para o consumo dos nossos trabalhos.

Está neste momento com uma exposição em Paris. O que representou para a sua carreira expor na capital francesa?

Paris é uma das mais importantes capitais da arte e cultura do mundo, logo expor nesta cidade é uma mais valia no crescimento e difusão do meu trabalho fora de Portugal.

É um dos diretores culturais da AILD. Porque achou importante juntar-se à associação?

O cargo em si não é o mais importante. O certo é que a associação abre um grande espaço que permite aos seus associados colaborar com as suas ideias em equipa AILD o que motiva todos os associados e amigos gostarem de ter iniciativas.

Um dos projetos para 2023 é a exposição “Realces”. Quer-nos falar um pouco dessa exposição?

“Realces” é um projeto criativo que propõe juntar artistas e criar obras em baixo ou alto relevo direcionado para o público com problemas de visão e interagir com elas. Temos como parceira a Associação Iris Inclusiva fundamental para que este projeto fosse possível. O desafio está lançado para 2023 e até lá vamos trabalhar muito.

Que outras ações pensa levar a cabo no próximo ano?

Consolidar atividades que estão programadas para 2023. Mais vale a pena fazer pouco e bem do que comprometer com muitas ações e não as concluir bem. Fazer com que ampliemos as vendas de “Obras de Capa” é fundamental para que os projetos sejam auto-sustentáveis para reinvestirmos em ações sociais, por exemplo.
Desenvolver maior intercâmbio com os artistas das diversas áreas que estão em rede da AILD e criar cumplicidades que resultem em projetos!
O convívio é um fator que muito contribui para criarmos tanto do domínio cultural, artístico, social, comercial entre outros.

Uma mensagem para as Comunidades lusófonas

Penso que a experiência e o bom conhecimento da nossa língua nos permitem melhor integrar na sociedade e aproveitar as oportunidades que estão ao nosso alcance assim como viver a cultura de forma mais apaixonada.
Por isso amem a língua portuguesa e façam dela a melhor ferramenta de divulgação dos nossos valores culturais no mundo.


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