Erika Jâmece

Nasceu em Luanda no dia 11 de Julho de 1977, tendo realizado a sua formação nos domínios das artes e da estética em diversas instituições, sendo relevantes as suas passagens pelo INFAC – ENAP (Instituto Nacional de Formação Artístico e Cultural – Escola Nacional de Artes Plásticas – Luanda – Angola)1996/2000 e pelo INEP (Instituto de Ensino Profissional Intensivo – Lisboa – Portugal) 2003. O percurso pelas artes plásticas, é marcado pelo empenho e progressão na descoberta, num processo de autoformação, criando a sua própria técnica não enfeudada aos cânones mais convencionais da academia. Erika Jâmece é um espírito livre. A sua espontaneidade e infindável criatividade são traços de personalidade vincados, que se transpõe para a sua obra. As suas raízes e a sua relação com o que de mais genuíno existe nas tradições do seu povo atravessam a sua obra.

Como nasceu a sua paixão pela pintura?

De muito tenra idade. Sempre criei e tive um mundo só meu enquanto pequena, desenvolvi e aperfeiçoei este amor pelas artes e a pintura em particular.

Quais foram as principais influências das artes plásticas na sua pintura? Porquê?

Foi conhecer primeiro a sua obra, depois a essência do artista, a paixão pela sua técnica,
sua forma de pintar vigorosa, solta, agressivo nas pinceladas e nas espátulas, este pintor é Vincent Van Gogh.
Depois fui tendo outras referências de pintores angolanos e internacionais, que alguns deles foram meus professores, Jorge Gumbe, Van, Álvaro Macieira, Francisco Vidal, Lady Skollie.

Participa frequentemente em ações diversas ligadas às artes plásticas e não só. A cultura tem uma grande importância na sua vida?

Sempre que posso e tenha convites e projetos, estou sempre ligada de todas as formas à arte. Fico realizada, empolgada pronta para desafios culturais. Eu sou arte, eu respiro arte, eu danço com arte, eu visto-me com arte, gosto de representar com arte, este é o meu modo e a importância que a cultura representa para mim.

Participa frequentemente em exposições coletivas. Quais são as principais diferenças em relação às exposições individuais e que qual foi aquela que a marcou mais? Porquê?

Participo e sempre participei em muitos exposições coletivas, e gosto bastante, de partilhar os espaços com artistas, de sentir o namoro entre as obras, a química entre elas, é fabuloso. Agora fazer uma exposição individual, tem um trato diferente, responsabilidade acrescida, dedicação, são meses por vezes um ano inteiro a preparar uma coleção para o momento, há uma entrega total. Sou um pássaro livre e gosto de sentir as minhas obras em grandes voos.

O que mais gosta em Portugal e Angola e o que menos gosta nos dois países?

Gosto da vida lisboeta, gosto de andar por Lisboa de conhecer pessoas e ser feliz.
Angola é a minha terra mãe, minha inspiração, meu palpitar na madrugada, gosto do sol e das praias, saudades.
Em Portugal o que me mata mesmo é o frio.
Em Angola a falta de saúde, a fome, o descaso.

A exposição itinerante “Obras de Capa” iniciou a sua viagem pelo mundo, estando prevista a inauguração da sua exposição no Centro Cultural do Camões em Vigo ainda este ano. Fale-nos um pouco da sua envolvência neste projeto, e o que pensa deste formato para a divulgação dos artistas plásticos?

É um projeto muito envolvente e abraçado logo por mim no primeiro instante.
“Obras de Capa” é um projeto super dinâmico, porque assim eu o fiz, temos que criar 12 obras para os 12 meses do ano, as obras foram todas pintadas sobre Estória e contos e numa sequencia muito rápida, desenhei as cinco primeiras obras no mesmo instante, o que me deu bastante prazer criativo e pictórico. No meu ponto de vista este formato para a divulgação dos artistas e da arte no seu todo, é inovador, diferente, espetacular, ou seja amei e amo a experiência.

É possível viver em Portugal só da pintura?

É possível nos dias de hoje viver só da pintura em Portugal e em qualquer parte do mundo, só que o artista tem que ter know-how e trabalhar com as pessoas certas no mercado.

É conhecida nos círculos artísticos como a Rainha do “Hongolo”(arco-irís em kimbundo). Foi por causa do cromático das suas obras que granjeou esse título?

A forma como me apresento nos eventos, meus ou de outros, tem um estilo próprio, caraterístico meu, alegre, colorida, a começar nas bijuterias que na sua maioria são feitas por mim e no toque final das roupas que eu própria pinto. Hoje tenho a minha marca de bijuterias e acessórios “HONGOLO”. E assim a Rainha das cores do sorriso fácil chegava, depois foi só pesquisar as línguas nacionais faladas e escritas até hoje em Angola, a que me suou melhor , e a palavra, ficou.

Quais são os seus projetos para 2023?

Em relação à exposição “Obras de Capa” em que a itinerância arranca ainda este ano com uma exposição no Centro Cultural do Camões I.P. em Vigo, aguardo a confirmação de vários locais para expor no próximo ano. Está agendada também uma exposição coletiva para fevereiro no Luxemburgo e ainda o projeto expositivo “Realces” que terá a sua inauguração no próximo ano também. Vai ser uma agenda cheia.

Pensa regressar um dia a Angola para ficar a viver?

Penso muitas coisas uma delas é ir a Lua!

Qual é o seu maior sonho?

Ter saúde, dinheiro para criar os meus filhos e expor no Museu do Louvre.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Não permita que digam que a sua obra é uma merda!
Trabalhe muito, pinte muito, pesquise muito!
O dia do seu sucesso irá chegar!

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