Michael de Brito

Michael de Brito formou-se na Parsons School of Design e fez pós-graduação na New York Academy of Art. De Brito teve várias exposições individuais com a Eleanor Ettinger Gallery em Nova York, Galeria Graça Brandão em Lisboa, e a University of Maine Museum of Art em Bangor, no Maine. O seu trabalho foi exibido na National Portrait Gallery em Londres, na Abbaye Saint André em França, no Museu Afro no Brasil, no Museu Presidencial de Lisboa e no Museu Europeu de Arte Moderna de Barcelona. Michael de Brito foi o vencedor do Pollack-Krasner Grant e finalista do concurso de retratos da BP. O seu trabalho mais recente pode ser encontrado na Fundacion de las Artes – FIGURATIVAS 2021 – 11th Painting & Sculpture Competition em Barcelona, Espanha. Está também nas coleções do Museu de Arte de Nevada e no Tribunal Constitucional em Lisboa. É representado pela Collins Galleries em Cape Cod e pela Galeria Graça Brandão em Portugal.

O Michael tinha uma paixão por banda desenhada, mas depois de ver as pinturas de John Singer Sargent tudo mudou. O que aconteceu?

Sou sempre grato por ter sido apresentado ao mundo da banda desenhada. Comecei a desenhar copiando páginas do Homem-Aranha e dos X-men. É muito da razão pela qual gosto tanto de pintar a figura hoje. Quando era criança, passava horas a estudar como cada página era desenhada e o artista usava a luz as sombras e a cor. Colecionei principalmente banda desenhada com artistas que achei o estilo deles interessante e comovente. Quando entrei na Parsons School of Design, tudo o que eu queria era trabalhar para a Marvel. Quando comecei o meu primeiro ano de de pintura, algo se acendeu em mim. Eu senti-me inspirado tentando dominar um meio que parecia um pouco novo para mim. Fui apresentado a pintores como Diego Velazquez, John Singer Sargent, Edouard Manet e Frans Hals. Lembro-me claramente de ir ao museu Metropolitan para ver as pinturas pessoalmente e perceber que pintar era tudo o que eu queria. Eu nunca olhei para trás.

O último jantar

“O último jantar” foi o quadro que abriu as portas para o mundo. Conte-nos o que é essa obra e que importância teve para sua brilhante carreira.

A pintura é dos meus avós juntos na mesa da cozinha. O meu avô estava doente e a morrer com um cancro naquela altura. Esta foi uma das suas últimas refeições naquela cozinha. É uma representação de como a beleza pode estar na tristeza, permitindo ao público compartilhar o último momento entre companheiros de longa vida.
Foi um grande avanço para mim em relação ao tema e à técnica. Quando me deparei com a cena deles na mesa, tudo parecia certo, iluminação, composição, objetos e, claro, as pessoas. Isso lembrou-me as cenas de mesa de Velazquez, mas com um toque moderno. Foi um momento inspirador que me mudou e mudou também a minha forma de pintar.

Qual a importância da família no seu trabalho? Eles gostam de se rever nas exposições?

A minha família é o principal elemento de inspiração na maior parte do meu trabalho. A ideia de família pode ser traduzida em todas as culturas e existe para nos lembrar de várias maneiras como estamos todos conectados. A minha família, depois de anos em que eu os desenhava e pintava, agora já se acostumou com a ideia de ser o foco do meu trabalho.

Como capta as expressões e os movimentos e os transporta para o desenho?

Há muita coisa que acontece no aspeto de desenhar o quotidiano. Para realmente entender o movimento e o gesto, isso deve ser feito quando está a acontecer à sua frente. A partir daí a peça final passa por uma evolução dos desenhos com o estudo da pintura a partir de múltiplas referências fotográficas.

Os museus eram a minha “escola principal”. O que quer dizer com esta frase?

Durante a minha carreira, tive muitos professores influentes que me ensinaram muitas técnicas e conceitos. Os museus também foram uma grande parte dessa jornada. Passo horas em museus analisando técnicas, cores, proporções, iluminação e temas. É tudo relevante para o meu trabalho e ajudou-me a tornar-me no pintor que sou hoje.

Demora mais para desenhar do que para pintar. Como é o seu processo de trabalho?

Normalmente, o processo de desenho leva mais tempo por causa do desenvolvimento da composição, bem como da anatomia e escala do trabalho. Uma vez concluída, a parte da pintura parece fluir de forma mais rápida porque as outras partes foram concluídas na fase de desenho para que eu me possa focar na cor e no detalhe.

É possível viver em Nova Jersey apenas pintando?

Eu acho que é possível viver em qualquer lugar e fazer o que você ama, desde que esteja com a mentalidade certa e uma motivação positiva e determinada.

Acha que se vivesse em Portugal teria alcançado o sucesso que tem?

Isso é difícil responder. Olhando para trás, sou grato por todas as oportunidades que os Estados Unidos me ofereceram em relação à minha arte e ao meu estilo de vida. Os meus pais, que também moram nos EUA há muito tempo, também são uma grande parte da minha decisão de fazer da arte a minha vida, porque eles estavam muito abertos em permitir que a minha irmã e eu seguíssemos as nossas paixões.

Gosta mais de ensinar ou pintar?

A minha primeira obsessão sempre foi pintar e desenhar. Ensinar para mim é uma forma de retribuir e ser grato pela minha experiência.

Está a pensar representar outras tradições portuguesas, por exemplo, o folclore, ou os pescadores portugueses?

Sim, neste momento estou a trabalhar numa nova série de pinturas que captam a beleza das bailarinas portuguesas dos ranchos. Essa era uma ideia que eu tinha há algum tempo e finalmente estou a concretizar agora.

Projetos para 2023?

O meu projeto número um para 2023 é a conclusão da série de dançarinos dos ranchos para uma próxima exposição.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Nunca tome como garantido nenhum momento marcante na sua carreira de pintor e saboreie cada passo dessa jornada.


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