A Diáspora no Setor Energético

Nas últimas duas décadas, temos testemunhado uma mudança significativa no paradigma global da produção de energia. Impulsionados pela crise climática, diversos governos têm estabelecido planos ambiciosos para descarbonizar o setor energético, resultando no aumento da adoção de fontes de energia renovável em escala global.
Para a diáspora portuguesa, essa mudança no paradigma energético representa uma vasta gama de oportunidades de crescimento profissional. Neste artigo, destacaremos duas visões de engenheiros portugueses, residentes na China e no Reino Unido, respetivamente.

João Graça Gomes

China – João Graça Gomes
Na China, um país de dimensões continentais, as diferenças mais notáveis no setor energético, em comparação com Portugal, residem no número e na diversidade de profissionais empregados no setor, bem como na magnitude dos esforços de descarbonização empreendidos pelo país. Atualmente, a China lidera no número de profissionais empregados no setor energético, 19,2 milhões de pessoas, representando quase 30% do total empregado globalmente. Adicionalmente, nos últimos anos, observou-se uma mudança substancial na composição desse setor, com um incremento de 2 milhões de empregos em energias renováveis e uma diminuição de 600 mil empregos ligados aos combustíveis fósseis . O crescimento das indústrias eólica e solar tem sido o principal motor por trás deste aumento de postos de trabalho, com a China acolhendo presentemente seis das dez maiores empresas de construção de turbinas eólicas e seis das dez maiores empresas de produção de painéis solares fotovoltaicos.
Outro ponto de destaque, que motivou a minha mudança profissional para a China, é a escala monumental dos projetos. A China detém vários projetos emblemáticos que incluem, por exemplo, a Central Eólica de Jiuquan, com uma capacidade instalada de 20 GW, superando em mais de duas vezes a capacidade eólica instalada em Portugal, e a Central Hidroelétrica das Três Gargantas, com 22,5 GW, a maior central hidroelétrica do mundo. Esses exemplos evidenciam a magnitude dos empreendimentos energéticos na China, destacando a liderança em megaprojetos de energia renovável.
Quer pela possibilidade de adquirir conhecimento e experiência ao participar em megaprojetos, quer pela agilidade e capacidade de execução adquiridas na elaboração desses projetos, vejo a minha colaboração com o setor energético chinês como uma mais valia. Na próxima etapa da minha vida profissional, ambiciono trazer este conhecimento para Portugal, de forma a colaborar numa transição energética segura, sustentável e equitativa. Espero ainda poder contribuir para a promoção de programas de intercâmbio entre universidades e empresas da China e de Portugal. Através de iniciativas de cooperação e intercâmbio, podemos facilitar a transferência de conhecimento e promover uma colaboração eficaz entre os dois países, impulsionando assim a transição energética, com mais oportunidades económicas e o desenvolvimento sustentável em Portugal.

Vasco Zeferina

Reino Unido – Vasco Zeferina
O Reino Unido destaca-se na vanguarda da transição energética, estabelecendo metas ambiciosas para a redução das emissões de carbono e introduzindo reformas pioneiras nos mercados energéticos. O país não só é reconhecido pelas suas instituições académicas de renome, mas também pela excelência e volume da investigação académica, especialmente na área da energia, reflexo do significativo investimento nacional neste setor. Este contexto promove a procura por profissionais qualificados, atraindo talentos internacionais, incluindo jovens profissionais.
Emigrei para o Reino Unido com o objetivo de realizar um doutoramento num programa doutoral em redes elétricas, visando desenvolver competências altamente relevantes neste campo. Contudo, a especialização num tema tão específico limita o leque de oportunidades profissionais que valorizam este tipo de competência. Por esta razão, o Reino Unido, dada a sua dimensão e o facto de o seu setor de serviços operar em mercados globais, apresenta muito mais oportunidades de trabalho potencialmente interessantes e relevantes para profissionais com as minhas características. Trabalhar neste contexto assegura uma variedade e diversidade de ofertas de trabalho disponíveis, o que é benéfico tanto para o empregador como para o trabalhador.
Apesar da gratificante carreira no Reino Unido, almejo envolver-me em projetos no setor da energia em Portugal, desejando, se possível, regressar ao país e exercer a minha atividade profissional no setor energético a partir de Portugal. Aspiro trabalhar em projetos de âmbito global, beneficiando do know-how produzido por equipas baseadas em Portugal. Com esse objetivo em mente, tenho procurado desenvolver as minhas competências e as decisões de progressão profissional no setor energético.

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