A evolução da diáspora portuguesa no Luxemburgo

Os primeiros laços entre Portugal e o Luxemburgo remontam ao final do século XIX, com o casamento da princesa portuguesa D. Maria Ana de Bragança com o príncipe Guilherme Alexandre de Nassau, em 1893. No entanto, a emigração portuguesa em massa só começou décadas depois.
Foi na década de 1960 que a emigração portuguesa para o Luxemburgo teve um grande impulso.
Com o crescimento que se registava, o Luxemburgo enfrentava uma escassez de mão de obra, especialmente nas áreas da construção civil e serviços domésticos sendo que, nessa altura, Portugal vivia sob a ditadura de Salazar, com pobreza generalizada e poucas oportunidades de ascensão social e económica. A mão de obra portuguesa começou a chegar em grande número, alguma de forma clandestina, pois não havia ainda acordos bilaterais de migração. Nesse tempo, os homens eram geralmente empregados na construção civil, enquanto as mulheres trabalhavam em limpezas e serviços domésticos, profissões que requeriam poucas qualificações e de salário baixo. Com o tempo, acordos entre os dois países facilitaram a legalização dos emigrantes. A comunidade portuguesa cresceu e começou a se estabelecer de forma mais permanente, trazendo famílias e criando redes de apoio.

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Atualmente, os portugueses são a maior comunidade estrangeira no Luxemburgo:

  • Representam cerca de 14,5% a 16% da população total do país.
  • Em 2021, havia cerca de 93.678 portugueses registados no país.
  • A comunidade está concentrada principalmente em Differdange, Esch-sur-Alzette e Larochette.
  • A média etária dos portugueses no Luxemburgo é de cerca de 36,7 anos, o que indica uma população relativamente jovem.
    Muitos descendentes de portugueses já nasceram no Luxemburgo, criando uma identidade luso-luxemburguesa. A língua portuguesa é amplamente falada, e há escolas, associações culturais e meios de comunicação voltados para essa comunidade.
    Ainda assim, as crianças portuguesas ou descendentes de portugueses têm maior probabilidade de frequentar o ensino técnico/profissional e duas vezes mais probabilidades de abandonar precocemente a escola.
    Persistem, por isso, dificuldades de integração no sistema educativo, muitas vezes devido a barreiras linguísticas e falta de apoio adequado. Também no acesso à habitação, nem sempre é fácil aos portugueses aceder às melhores localizações e prédios. A crise imobiliária no Luxemburgo agrava ainda mais essa situação, tornando o acesso à habitação digna um desafio constante .
    Numa realidade em transformação, verifica-se ainda que muitos portugueses ocupam empregos menos qualificados.
    A Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI) identificou a comunidade portuguesa como uma das mais afetadas por práticas discriminatórias no emprego .



O sentimento xenófobo aumentou durante a pandemia, com os portugueses sendo frequentemente alvo de preconceito e estigmatização. As Associações culturais e educativas portuguesas têm desenvolvido programas de apoio escolar para crianças e jovens, ajudando-os a superar barreiras linguísticas e a melhorar o desempenho académico. Há também escolas complementares de língua portuguesa, que reforçam a identidade cultural e o domínio da língua materna.
A comunidade tem se organizado para denunciar casos de discriminação e pressionar as autoridades luxemburguesas a agir. Organizações como a ECRI (Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância) têm destacado a situação dos portugueses, o que tem ajudado a dar visibilidade internacional ao problema. Muitos portugueses contam com redes familiares e comunitárias fortes, que oferecem apoio emocional, financeiro e prático, especialmente em questões como habitação e emprego. Há também cooperativas e associações de emigrantes que ajudam na procura de casa, emprego e na integração social.
Cresce o número de portugueses e lusodescendentes que participam na vida política local, seja como eleitores ou candidatos, o que fortalece a representação da comunidade e a defesa dos seus direitos.
Através de eventos culturais, festivais, rádios comunitárias e centros culturais, a comunidade mantém viva a cultura portuguesa e promove o diálogo intercultural com os luxemburgueses. As perspetivas futuras para a comunidade portuguesa no Luxemburgo em 2025 são marcadas por desafios persistentes, mas também por novas oportunidades e sinais de mudança positiva. Com efeito, há um movimento crescente para que os emigrantes portugueses tenham maior representação política, tanto em Portugal como nos países de acolhimento. Em 2025, discute-se a criação de um Ministério das Comunidades Portuguesas, o que poderia fortalecer a voz da diáspora e melhorar a articulação de políticas públicas voltadas para os emigrantes. Simultaneamente, o Orçamento de Estado do Luxemburgo para 2025 trouxe mudanças fiscais que beneficiam diretamente os portugueses, como:

Incentivos à aquisição de imóveis, o que pode ajudar a combater a exclusão habitacional que muitos enfrentam.
A comunidade portuguesa no Luxemburgo caminha, acredita-se, para um futuro de maior visibilidade, integração e reconhecimento.

Fundação AEP

Rede Global da Diáspora

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