África do Sul

Um país à deriva e uma nota às legislativas

Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul | © depositphotos

Vou tentar dar aqui uma perspetiva, não exaustiva, sobre a atual situação que se vive neste grande País da África Austral, uma potência regional que há muitos anos anda nas bocas do Mundo, primeiro por causa do regime do “apartheid” e, ainda recentemente pela cena, digamos caricata, na Sala Oval da Casa Branca entre os Presidentes Trump e Ramaphosa dos Estados Unidos e da África Sul, respetivamente. Ora, como cidadão e residente deste País há 40 anos, permitam-me que dê a minha opinião pessoal, e só isso, sobre o estado da República Sul-Africana e da larga Comunidade Portuguesa.
Quanto às acusações de genocídio dos agricultores brancos, digo, desde já, que no verdadeiro sentido da palavra ele não existe. Os agricultores vivem em grandes propriedades e estão, é verdade, vulneráveis a assaltos de gangues organizados que veem neles um alvo fácil. É verdade que, na maioria dos casos, a violência é tal que se pode inferir que alguma forma de vingança contra a raça branca existe tendo em conta que, segundo apoiantes do Congresso Nacional Africano (ANC) e os Lutadores pela Economia Livre (EFF), beneficiaram do antigo regime e “roubaram” as terras da maioria negra. Esta teoria, além de falsa, vai contra as necessidades do País e contra o pensamento de Nelson Mandela e a sua “Nação do Arco Íris” onde todos teriam o seu lugar e contribuiriam para um País Multirracial. Mais grave, caso estes agricultores abandonem as suas propriedades, muitos deles lusodescendentes, poderemos vir a ter uma situação igual ao Zimbabué ou das antigas colónias portuguesas que de autossuficientes, ou quase, passaram a importar quase todos os bens alimentares. Aliás, a África do Sul é um País exportador de cereais, fruta, carne e muitos outros bens. Fez bem o Presidente Trump em chamar a atenção a Ramaphosa para este aspeto, mas o que se pedia era que quem o informou não tenha tido o cuidado de lhe disponibilizar factos verdadeiros e não introduzisse algumas falsidades ou exageros vindos das redes sociais. Estas redes, muitas vezes, espalham as ditas “Fake News”, que muitos tomam como verdadeiras, um problema que se espalha por outras áreas.
A Comunidade Portuguesa está, na sua grande maioria, tranquila e segue com a sua vida empresarial ou de trabalho, sem pânico, mas com alguma apreensão. Os problemas de segurança persistem, mais de 27000 assassinatos, muitos raptos (alguns de empresários portugueses ligados a talhos), roubos, etc. A corrupção, incompetência e falta de treino das Forças de Segurança são uma praga que não é combatida, estendendo-se a todas as esferas do Governo, Função Pública e Municipalidades.
Os nossos jovens, e não só, veem-se descriminados quando procuram emprego. Há leis que impedem a contratação de brancos em todos os sectores, principalmente no Estado, sendo praticamente impossível serem contratados. Os próprios empresários estão obrigados, nas grandes e médias empresas, a terem sócios que em nada contribuíram ou contribuem para o seu sucesso, com o chamado Empoderamento Negro, obrigando a dar no mínimo 30% da quota da sua empresa, sem receber um cêntimo por essa percentagem. Por estes, e outros, motivos temos vindo a assistir a uma redução drástica do número de portugueses neste País, até porque é difícil hoje em dia obter um visto de residência na África do Sul e, estou certo, não haverá também interesse devido à insegurança que aqui se vive. Suspeito, sem ter números oficiais, que a Comunidade será hoje metade do que já foi. Emigração, desaparecimento das gerações mais velhas, regresso a Portugal serão algumas das razões para esta diminuição.

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Eleições Legislativas
Como Conselheiro das Comunidades não posso deixar de assinalar o fiasco, no que diz respeito, às últimas eleições de 18 de maio quanto ao processo de votação dos Portugueses Residentes no Estrangeiro, com maior acuidade no Círculo Fora da Europa. Está na hora dos principais partidos, sem exceção, acolherem de uma vez por todas as sugestões do Conselho das Comunidades Portuguesas implementando, em paridade, os votos presencial, postal e eletrónico em mobilidade, sem qualquer diferenciação e presentes em todas as eleições. Os Cadernos Eleitorais desmaterializados permitem-no e qualquer uma dessas modalidades é fiável e verdadeira. Estando a escrever este artigo dois dias antes da contagem dos votos da emigração, a África do Sul contabiliza 2 (dois) envelopes recebidos de mais de 24 000 enviados. Isto é uma fraude, o voto é um direito de todos nós. Quando os cidadãos são impedidos de votar, os resultados não refletem a vontade da maioria, mas sim daqueles que conseguiram receber o envelope com o seu voto. Quem poderá garantir que os resultados seriam os mesmos? Ninguém… mas ainda há quem não queira que os 1,6 milhões recenseados tenham a sua vida facilitada quando são chamados a exercer o seu direito de cidadania.
Antes de terminar, quero deixar aqui o meu agradecimento à revista “Descendências” por esta oportunidade e saudar, desde Joanesburgo, todos os seus leitores e colaboradores.

1 Comentário

  • Joao Felizardo
    3 semanas ago Publicar uma Resposta

    Obrigado Vasco de Abriu pelos dois artigo de informação oportuna e factual que como cidadao e residente há mais de 50 anos na RSA posso atestar! Tambem um obrigado á redaccao editorial da revista pelo facto de ter publicado os artigos para o dominio publico.
    Na questao dos votos no meu caso nunca recebi nenhum envelope da CNE de Portugal ( ou consulado) nestes anos todos de residencia na RSA ; o ano passado resolvi ir votar presencialmente ja que os serviços postais do governo falhado do anc jâ colapsaram ha uns anos. Contactei o consulado tirei o Cartao de cidadao e fiz uma viagem de 2000 km Ida e volta a jhb! Foi ssim que consegui votar pela primeira vez e em 2024.
    Este ano por motivos pessoais nao fui a jhb e assim foi mais um voto perdido do processo eleictoral . Para muitos residentes fora de jhb o voto electronico sera o metodo mais pratico e economico ; soube que ha mais de 20 anos o teste foi feito para o voto electronico ser introduzido mas claro ate hoje nada concretizado pela AR !!!

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