Grande Entrevista Ana Paixão

Fotografia ©Rose Nunes

Ana Paixão é desde 2010 diretora da Casa de Portugal – André de Gouveia na Cidade Universitária de Paris e também, desde 2017, representante das 42 casas que existem neste campus, onde vivem 12 mil estudantes de todas as partes do globo. Criada em 1967, a Casa de Portugal, que acolhe todos os anos cerca de 150 estudantes de mais de 40 nacionalidades diferentes, destaca-se das demais por ter uma das programações mais fortes da Cidade Universitária. Fique a conhecer um pouco melhor, nesta edição da Descendências Magazine, este campus único e o importante trabalho desenvolvido ao longo dos últimos 12 anos na afirmação deste espaço como uma importante vitrina da cultura portuguesa em Paris.

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É membro do Conselho Científico do Centro de Estudos em Sociologia e Estética Musical da Universidade Nova de Lisboa, é membro fundador das Sociedades Portuguesas de Retórica e de Investigação em Música e pertence aos Conselhos científicos editoriais das revistas Vieira e Glosas. Foi professora de francês aplicado ao canto no Conservatório Nacional de Lisboa e desde 2010 assume a direção da Casa de Portugal – André de Gouveia. Deixando os ofícios e posições de lado, quem foi e quem é Ana Paixão?

Ao longo da vida vamos mudando em função daquilo que vamos fazendo, mas, fundamentalmente, considero-me uma investigadora, alguém que se preocupa com o meio académico, alguém que gosta, particularmente, de escrever ensaio e de tocar piano (continuo muito ligada à minha atividade em música). Considero-me, sobretudo, alguém que gosta de aprender e de descobrir o mundo. Interesso-me por descobrir, por investigar, por viajar, por ir a espetáculos, por estar atenta a tudo o que se passa à minha volta, no plano académico, social e político. Sou sobretudo uma pessoa curiosa e que gosta de investigar, a fundo, cada uma das áreas a que se dedica. Procuro sempre conhecer mais. É esse o meu objetivo de vida.

É doutorada em Literatura Comparada e diplomada em piano pelo Conservatório de Castelo Branco. E foi nesta condição que lançou, em 2021, a obra “Rhétorique Littéraire et Musicale – Les Traités portugais (XVIIe-XIXe siècles), que pretende descobrir a maneira como a Literatura e a Música se tornaram “artes cúmplices”. Podemos afirmar que a arte sempre fez parte do seu ADN?

Sim. Aos quatro anos tive vontade de aprender piano e sempre me agradou imenso tudo o que tenha a ver com música. A literatura veio um pouco mais tarde, até porque aos quatro anos ainda não sabia ler. Veio impulsionada pela minha mãe, professora de Literatura, mas também pelos professores que tive. A minha passagem pelo conservatório permitiu-me a descoberta de muitas áreas artísticas. Não me trouxe só a música, trouxe-me a dança (fiz dança clássica até aos 24 anos), e, paralelamente, proporcionou-me uma ligação interartística, fundamental. A ligação com as artes plásticas, com a questão estética em geral, com os grandes movimentos estéticos foi essencial. Para além disso, tive a grande sorte de ter professores, muito, muito bons no Conservatório de Castelo Branco.
Foi uma formação que começou muito cedo e que foi sendo acompanhada ao longo dos anos por uma curiosidade muito grande de descobrir esta articulação entre artes e até com o mundo que nos rodeia.

Hoje, a Ana Paixão, é um dos principais rostos da Cidade Universitária Internacional de Paris, que conheceu com apenas 12 anos, quando acompanhou a sua mãe, professora de Francês, num estágio linguístico. Podemos afirmar que foi aí que começou, ainda que cedo, a sua ligação à Cidade Universitária?

À Cidade Universitária não diria, mas a Paris sim. Aos 12 anos ao ter descoberto a cidade fiquei com imensa vontade de a conhecer e disse à minha mãe que era a cidade onde gostaria de morar. Apesar de ter conhecido o espaço da Cidade Universitária nessa altura, só a redescobri em 2010. Portanto, houve aqui um hiato de muitos, muitos anos em que não tive qualquer ligação com a Cidade Universitária.

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Quando regressou a França para começar a dar aulas de português e língua portuguesa na Universidade Paris III, no início dos anos 2000, tentou voltar à Cidade Universitária para viver, mas viu a sua candidatura recusada. Por força do destino e de muito trabalho, anos mais tarde, assumiu a direção da Casa de Portugal – André Gouveia, uma das 42 casas que fazem hoje parte do campus da Cidade Universitária Internacional de Paris. Decorridos 12 anos, que balanço faz desta experiência?

Tem sido uma viagem, absolutamente, extraordinária. Quando cheguei era professora universitária e não tinha, propriamente, experiência de gestão. De repente, deparei-me com alguns desafios, como fazer a programação cultural, o que parecia um desafio perfeitamente aceitável, tendo em conta a minha formação, o meu percurso e a minha experiência. No entanto, mais tarde dei-me conta de que era preciso fazer a gestão financeira, fazer a gestão das admissões dos residentes, fazer toda a parte de gestão administrativa, (que não tem a ver só com a própria casa, mas também com a ligação com as outras casas), fazer também um pouco relações internacionais dentro do campus e fazer relações externas relativamente ao campus. Tudo isto, acabou por me levar à descoberta do mundo do mecenato para conseguir apoios, para conseguirmos renovar os nossos espaços, entre muitas outras coisas. Posso dizer que para mim foi, e aliás continua a ser, um trajeto extraordinário. Todos os dias aprendo. Para além disso, espero que a minha passagem por aqui esteja a ser também mais-valia para a casa e que tenha contribuído para que esta se afirme um polo da cultura portuguesa.

A Casa de Portugal – André Gouveia distingue-se como uma vitrina da cultura portuguesa e por ter uma das programações mais fortes da Cidade Universitária. Tem sido esta programação diversificada e completa, com atividades nas áreas da música, dança, teatro e cinema, uma das principais apostas da Casa de Portugal – André Gouveia?

Sim, a diversidade e a inclusão. Tentamos sempre cobrir áreas totalmente diferentes e incluir públicos totalmente diferentes. A ideia é fazer uma ligação entre os estudantes que estão aqui, a comunidade francesa em geral, a comunidade portuguesa aqui residente e a comunidade internacional. Queremos criar pontes, tendo sempre como eixo principal a língua portuguesa, as manifestações ligadas à língua portuguesa e às culturas lusófonas. Procuramos manter essa “coluna vertebral”, mas incluir também toda a sua diversidade, criando uma programação bastante eclética para cobrir o máximo de áreas.

Quais as principais iniciativas desenvolvidas pela Casa de Portugal – André Gouveia ao longo do ano?

Temos vindo a desenvolver uma programação muito coerente e que, desde 2010, tem vindo sempre a aumentar, a amplificar-se. Este ano temos a Temporada França-Portugal e, por isso, acabamos por ter um ano com muita visibilidade. No entanto, diria que programação deste ano, não é diferente da que tivemos em 2019. O ano de 2022 vem na sequência de 2019, obviamente com as experiências que acumulamos durante a pandemia que nos trouxeram outros meios de expressão e de comunicação. Apesar dessa adaptação, diria que as linhas de programação não mudaram desde 2019, e que, acima de tudo. Diria sim que, Temporada França-Portugal veio dar outra projeção.

Todos os anos, a Casa de Portugal realiza cerca de uma centena de eventos, concebidos pela Cátedra Lindley Cintra da Universidade de Paris Nanterre e pelo Leitorado de Língua e Cultura Portuguesa da Universidade de Paris 8 de Camões, I.P. Todas, as atividades são realizadas em parceria com variadas instituições portuguesas, francesas e internacionais, nos âmbitos académico, associativo, autárquico e cultural. Qual a importância que estas parcerias representam para a Casa de Portugal – André Gouveia e de que forma vieram contribuir na prossecução da sua missão?

Todas estas parcerias são enriquecedoras. Além destas, que são as parcerias de base, procuramos sempre outras, sendo que o objetivo é conseguir trazer o máximo de parceiros para esta programação.
Esta rede permite-nos articular atividades com diversos parceiros e até com o mundo associativo. Em quantas mais redes estivermos, mais facilmente conseguimos criar uma programação cultural diversa e mais facilmente conseguimos também fazer com que os artistas se apresentem em vários espaços, em vários contextos. A nossa intenção não é só de ter uma programação, mas também de contribuir para a visibilidade de Portugal em França. Durante muito tempo, trabalhámos para uma atualização da imagem de Portugal e a Temporada veio também contribuir para isso, para que passemos a uma outra etapa de colaboração entre Portugal e França.

A Casa de Portugal – André Gouveia foi construída nos anos 1960, por iniciativa de Azeredo Perdigão, então diretor da Fundação Calouste Gulbenkian. Pelas suas instalações já passaram milhares de estudantes, alguns deles nomes bem conhecidos dos portugueses, como o violoncelista Paulo Gaio Lima, a artista Isabel Pavão, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas ou a cientista Odette Ferreira. É caso para dizer que desde muito cedo a Casa de Portugal se revelou um espaço de acolhimento e de mostra de importantes gerações de criadores, em diferentes artes?

Sim, sem dúvida. Não só de criadores no mundo artístico, mas também de criadores de novas formas de ver o mundo. Apesar de ser uma casa de Portugal, é também, e acima de tudo, uma casa que abre para o internacional. Neste momento, temos 43 nacionalidades, só no edifício da Casa de Portugal, e no campus os residentes podem contactar com mais de 150 nacionalidades diferentes. Inicialmente, quando a casa foi criada, destinava-se essencialmente a acolher os bolseiros Gulbenkian e por isso há uma grande associação entre o meio artístico e esta casa. No entanto, desde 2003 a casa amplificou bastante o leque de estudantes que acolhe e, portanto, neste momento os artistas acabam por ser minoritários. Hoje, a tendência é diferente. Se outrora a Casa de Portugal acolhia sobretudo artistas, hoje há novas especificidades e contamos com muitos estudantes em Medicina e em Engenharia.

Fotografia ©Rose Nunes
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A Casa de Portugal – André de Gouveia recebe permanentemente moradores de cerca de 40 nacionalidades diferentes, tornando-se um espaço de intercâmbio intercultural. Apesar disso, desde a sua fundação, o espírito continua a ser de uma verdadeira casa e não apenas uma residência universitária onde as pessoas vêm dormir. Viver aqui significa, acima de tudo, fazer parte de um núcleo quase familiar?

Sempre houve a ideia de criar um espaço que fosse muito mais do que uma residência. A Casa de Portugal não é só um sítio onde os estudantes vêm dormir, é sim, fundamentalmente, um espaço feito para conviverem e conhecerem pessoas do mundo inteiro. Apesar de decorridos muitos anos desde a sua fundação, o valor central da Cidade Universitária continua a ser a “harmonia entre os povos do mundo” e essa continuará a ser sempre a nossa missão.

A Casa de Portugal – André Gouveia é, sobretudo, um polo da cultura portuguesa em Paris com celebrações de datas importantes como o 25 de Abril, concertos ou conferências. Unir o mundo académico e a comunidade portuguesa residente nem sempre é algo adquirido. Por onde tem passado a estratégia da Casa de Portugal, com vista a potenciar esta aproximação?

Essa continua a ser uma missão e, sobretudo, um desafio. Aproximar a comunidade nem sempre é fácil e a primeira estratégia de aproximação começou por aliar a programação com a coordenação do ensino, fazendo, por exemplo, com que a entrega de prémios dos alunos de português da região de Paris, aconteçam aqui na casa. Desta forma, conseguimos trazer várias gerações dessa comunidade a estarem aqui presentes e mostrar que, efetivamente, a casa é um sítio acessível a todos.
Um outro eixo importante tem sido a divulgação nos media ligados a Portugal, como o LusoJornal e a Rádio ALFA, vetores muito importantes e que nos têm ajudado a fazer passar a informação. Para além disso, não podemos esquecer também o contributo da paróquia, que tem sido um importante eixo de aproximação com a comunidade.

A Ana Paixão é também desde 2017, representante das 42 casas que existem na Cidade Universitária Internacional de Paris, onde vivem pessoas de todas as nacionalidades e de todos os países do globo, como Índia, Japão, México ou Espanha. O que a levou a aceitar o enorme desafio de ser a “porta-voz” dos diretores das 42 casas, mas também dos 12 mil estudantes da Cidade Universitária Internacional de Paris?

Acabou por ser algo bastante natural. Desde que cheguei empenhei-me tanto em todos os projetos que acabei por ser, de forma natural, alguém com quem os meus colegas contactavam sempre que tinham dúvidas sobre alguma questão. Havendo esta procura colaborativa constante, acabei por ser um pouco “empurrada” pelos meus próprios colegas a candidatar-me a este lugar. Neste momento, esta é uma função que tem outras nuances, uma vez que, estamos numa fase de desenvolvimento de uma série de documentos jurídicos sobre os estatutos da Cidade Universitária e, portanto, está a tomar uma dimensão muito mais importante do que aquilo que eu pensava ao início. Esta jornada começou por ser uma missão mais de cooperação entre casas, mas neste momento está a ser quase uma missão de estratégia relativamente àquilo que são as preocupações do campus. Por exemplo, neste momento, estamos a adaptar os nossos regulamentos e formulários de candidatura. Até agora, a qualquer aluno que se candidatasse ao campus e fosse admitido era, automaticamente, atribuída a casa da sua nacionalidade. Neste momento, os candidatos ao próximo ano letivo têm já a possibilidade de escolherem se querem ser ou não admitidos na sua casa de origem, ou ainda se têm algum problema a assinalar relativamente à nacionalidade de origem.
Perante a nova realidade temos tido especial atenção a determinadas questões. No entanto, nem sempre é fácil encontrar uma norma que seja aplicável a todos e que solucione as questões de todos os alunos.

O facto de ser ex-aluna da Cidade Universitária Internacional de Paris e de ter tido uma formação de ensino e pesquisa, que sempre atravessou Portugal e França, e repleta de influências de outros territórios europeus, americanos ou asiáticos, tem sido fundamental para responder eficazmente a este importante desafio de gerir 42 casas de países de todo o globo?

Sim, tem sido fundamental. Só lamento, às vezes, não ter tido mais experiências. De facto, dentro do campus sentimo-nos fora de França. Basta irmos a determinados eventos ou ter conversas com alguns estudantes para percebermos e conhecermos outras realidades. Às vezes, no final de conversas com alguns estudantes vou pesquisar mais sobre o que falamos, sobre a forma deles de ver o mundo e a vida em geral. Como dizia, este é um trabalho absolutamente fascinante, porque todos os dias há novos desafios e novas aprendizagens. Aqui, nunca há monotonia.

Coordenar tantas nacionalidades diferentes é, no mínimo, desafiante. Há, de facto, algo diferente na interação dos portugueses com outras nacionalidades?

Todos os alunos saem diferentes daqui e todos valorizam bastante esta experiência internacional. A ligação que se cria dentro do campus acaba por reforçar esta interação internacional. Tenho amigos que foram residentes aqui há 30 anos e que continuam a manter relações de amizade com pessoas de outras nacionalidades que conheceram aqui. Uma das minhas grandes amigas, que vive em Paris, continua a ter como melhor amiga uma síria, que também reside em Paris, e que conheceu na Cidade Universitária. São ligações que ficam de forma muito duradoura e, obviamente, que marcam a vida de todos os que por aqui passaram. E também isso que procuramos proporcionar. Aqui, na Casa de Portugal, de duas em duas semanas organizamos um brunch ao domingo de manhã que conta com a participação de 100 alunos que aproveitam este momento para conversar e descobrirem-se uns aos outros. As ligações criam-se assim e as oportunidades também.

A Cidade Universitária Internacional de Paris foi imaginada por André Honnorat, ministro da Educação francês entre as duas grandes guerras, como um lugar em que estudantes de todo o mundo que acorriam a Paris travariam amizade, partilhariam culturas e construiriam a paz do futuro. Numa altura em que o mundo atravessa um dos períodos mais conturbados, provocado por uma nova guerra, projetos como a Cidade Universitária Internacional de Paris, “utópicos de paz e harmonia entre os povos” revestem-se de ainda mais importância?

Claro que sim. Há cerca de dois meses escrevemos uma carta dos valores atualizada, porque sentimos que há problemáticas que devem ser analisadas. Infelizmente, o mundo não mudou radicalmente, pelo contrário, ainda há muitos problemas que persistem – guerras, discriminação, formas de olhar para o outro. Nesta linha, procuramos fazer projetos diferentes que envolvam pessoas com visões do mundo diferentes para que se possam dar a conhecer essas realidades.

A Ana Paixão foi, ainda antes da invasão da Rússia à Ucrânia, impulsionadora do acolhimento de residentes refugiados na Cidade Universitária Internacional de Paris. Com uma nova crise humanitária, grande parte da população ucraniana tem sido obrigada a abandonar o seu país e a procurar acolhimento em países europeus, entre eles França. A Cidade Universitária Internacional de Paris está, uma vez mais, disponível para apoiar neste processo de acolhimento e integração?

Completamente. Neste momento, há, naturalmente, um grande focus na Ucrânia e aqui dentro do campus foi criado um projeto de uma casa virtual da Ucrânia. Através deste projeto, cada uma das casas do campus vai acolher 5/6 estudantes ucranianos que tenham tido o impacto direto desta guerra.
No entanto, importa referir que faz parte do nosso ADN receber pessoas que vêm do mundo inteiro. Recebemos refugiados de todo o mundo e temos até estudantes apátridas, que têm um passaporte das Nações Unidas e que não têm, propriamente, nenhum país de acolhimento. Fazemos isso não apenas do ponto de vista dos nossos residentes, mas também dos nossos funcionários. Temos muitos funcionários, alguns deles refugiados políticos de outros países, que encontraram aqui, por fim, um sítio estável onde trabalhar.

Desde 2016, dirige o projeto «Mulheres no mundo», que visa sensibilizar todas as mulheres residentes em França para os seus direitos neste país. Quais as iniciativas desenvolvidas neste âmbito e de que forma o projeto “Mulheres no mundo” tem contribuído para que as mulheres se sintam integradas e, sobretudo, respeitadas no seu país de acolhimento?

Quando cheguei à Cidade Universitária dei conta de que a integração era, sobretudo, difícil para as mulheres. Tinham dificuldades de integração não propriamente no campus, porque o campus é bastante eclético, mas sim no próprio meio universitário que às vezes as olhava com alguma desconfiança. Para além disso, muitas vezes, elas próprias não sabiam como se comportar entre esses mundos, entre o mundo extremamente fechado de onde muitas vezes vinham e um mundo demasiado aberto ao qual chegaram de repente.
Assim, o objetivo inicial do projeto era chamar à atenção das mulheres, mas também de toda a comunidade do campus para essas questões de integração. Neste momento, as questões relacionadas com o programa “Mulheres no mundo” deixaram de ser tão visíveis explícitas no exterior do campus e acontecem mais no seu interior.
Nesse sentido, temos vindo a desenvolver diversas iniciativas em parceria com outras entidades, como é exemplo o teatro da Cidade Universitária, sempre tendo por base esta temática. Um aspeto muito curioso é que ao início, em 2016, só tínhamos mulheres a participar nestas iniciativas. Hoje, a realidade já é diferente. Sentimos que, cada vez mais, os estudantes homens também se incluem nestas iniciativas e se sentem vozes ativas em defesa daquilo que são direitos das mulheres.
Considero que este programa continua a ser extremamente importante, uma vez que traz ao conhecimento das mulheres, mas também dos homens, as muitas problemáticas que continuam a existir.

Considera que o apoio à integração das mulheres na sociedade de acolhimento e defesa dos seus direitos de participação social, económica e política, ainda é uma das principais lutas?

Sim. Esta é uma luta para continuar e que não sei se alguma vez terminará. Na Cidade Universitária tivemos já uma série de formações, sobre as questões de sensibilização para as discriminações de género, e onde participaram todos os diretores, presidentes e vice-presidentes dos comités. Para além disso, existiram também formações abertas a todos os funcionários do campus, o que demonstra bem o empenho da Cidade Universitária na defesa desta luta. Lembro-me que numa das formações, a formadora que a ministrava disse que “dentro de 50 anos iria ficar sem trabalho”. Ora, isso era de facto um excelente sinal e espero, sinceramente, que no futuro esta situação já esteja bem resolvida.

Fotografia ©Rose Nunes

O seu trabalho nas suas diversas frentes, foi reconhecido no final de 2018 quando foi agraciada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Ordem de Mérito. Esta distinção veio reconhecer a sua ação na promoção da língua e das culturas feitas em língua portuguesa, em França. Considera esta sua ação continuada, feita de entusiasmo e labor, um dos seus principais propósitos?

Claro que sim. Este continua a ser um dos meus propósitos e vai continuar a sê-lo. Aliás, trabalho para o Camões I.P. – Instituto da Cooperação e da Língua e, portanto, essa continua a ser a minha principal missão, paralela a todas as outras. Continua a ser esse o meu grande entusiasmo e continua a ser essa a minha principal dedicação.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os nossos leitores, em especial, aos jovens portugueses que desejam estudar em Paris e que sonham com um lugar na Cidade Universitária Internacional de Paris?

Todos os anos temos sempre cerca de 150 alunos que querem vir estudar para cá e que conseguem um lugar na Cidade Universitária. Perante isto, a principal mensagem é: venham.
A Cidade Universitária é de facto não só uma porta para Paris, mas também uma porta para o mundo e para todo o tipo de experiências. Acredito que vão sair daqui pessoas diferentes, com mais curiosidade pelo outro e, sobretudo, com mais vontade de criar esta “paz e harmonia entre os povos”. Tem sido esse um dos nossos propósitos, criar pequenas sementes em todos os residentes que saem daqui, pela luta por um mundo melhor.

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