Lúcia Stanislas

Many Tribes One Blood

Nascida a 30 de julho de 1980 em N’Dalatando, em Angola, na cidade da Rosa-de-Porcelana, Lúcia Fernandes Stanislas é uma mulher generosa, calorosa, positiva, uma incrível geradora de ideias, sempre atuando e realizando várias missões. Aos 14 anos surpreende fundando a sua primeira ONG, SODAR (Solidariedade Assistência Crianças de Rua), a vontade de resolver problemas da sociedade já lhe acompanhava e a partir daí, nunca mais parou. É indubitavelmente uma impactista com um percurso ímpar, uma entusiasta do desenvolvimento socioeconómico do país.
Fundadora de oito organizações sem fins lucrativos, Presidente do Concílio de Negócio Angola-Índia na Câmara de Comércio e Indústria de Mulheres Indianas, Embaixadora da Paz e Embaixadora do Women’s Entrepreneurship Day, empreendedora social com mais de vinte anos de experiência nos Estados Unidos e Angola, mentora do Founder Institute (a maior aceleradora de negócio em fase pre-seed no mundo) e autora de « Princípios para Inovar a sua Empresa », Lúcia tem como principal missão inspirar para transformar, criando um impacto para um mundo melhor. Tenciona construir um legado que envolva pessoas com intenção de evoluírem como seres humanos.

A Lúcia é, desde 2017 Embaixadora do WED (Women’s Entrepreneurship Day), Dia Mundial da Mulher Empreendedora que celebra, apoia e promove a mulher empreendedora e deste espírito nasceu o projecto MWIKA, que tem por intuito apoiar mulheres camponesas através de um centro de recursos diversos. Iniciativas que foram mencionadas pela primeira dama de Angola, Ana Dias Lourenço, em 2019. Podia falar mais sobre MWIKA, os outros projetos e sobre Many Tribes One Blood?

MWIKA veio operacionalizar todas as ideias que surgiram do evento WED, MWIKA é um centro de recursos para apoiar mulheres de negócios, o objetivo era montar uma incubadora para mulheres rurais para poder ascender no agronegócio na minha terra natal, hoje MWIKA é um hub de inovação social digital juntando uma comunidade de impactistas que fazem negócios para criar impacto. A intenção é ser um empreendedor social com dois fins, o não lucrativo e gerar impacto social, é uma empresa social que deseja criar pontes entre Angola e o mundo. Fundei UJIMA que significa Responsabilidade e Trabalho Coletivo em Swahili, era uma plataforma constituída por um conjunto de marcas criadas e desenvolvidas sob a minha liderança. Fomentava o trabalho em equipa, a partilha de recursos, competências e habilidades, com a finalidade de impulsionar o crescimento de pequenos negócios. Era um ecossistema que abarcava empresas tais como: petrolífero, prestação de serviços, segurança, hotelaria, turismo, crescendo de forma sustentável.
DIBAKA que significa viveiro de plantas em kimbundu, é uma incubadora de empresas, foi muito desafiante porque estávamos num espaço precário em Luanda, vim com uma linguagem que não conheciam e acabámos por formar uma estrada de dois caminhos onde eu aprendia com eles e eles também aprendiam comigo. Tivemos a sorte de enviar um jovem empreendedor para Stockholm, a capital da inovação da Suécia, quando voltou, entrou na SIMES para continuar a desenvolver as suas competências com engenheiros que vinham de Portugal e Alemanha.
Acabei de partilhar um modelo de inovação social em que os três setores colaboram: o público, o social e o privado. A incubadora tinha essa característica de atrair todos esses intervenientes.
Many Tribes One Blood, é um projeto que criei para a promoção das Artes e Cultura que foi desenvolvido em Nova York, trabalhava com artistas, passava muito tempo com eles porque gosto de estar com eles, aliás, organizava a carreira deles, era outro negócio, era algo sociocultural que me ajudou muito a crescer.

Sentiu que as mulheres tinham dificuldade em encontrar fundos, apoios financeiros?

Em Angola, basicamente, o problema maior da mulher é o financiamento. MWIKA opera num ecossistema e a partir da capacitação, as mulheres que têm modelo de negócio, elas têm uma maior probabilidade em serem financiadas. Trabalhamos para viabilizar as questões de finança mas não é fácil porque temos os financiadores tradicionais que são os bancos e os critérios de aprovação não são necessariamente para os negócios inovadores, neste caso há uma dificuldade por essa razão específica.

Acha que é possível lançar e viabilizar um projeto sem ter financiamento?

Escrevi sobre isso no meu livro « Princípios para Inovar a sua Empresa » para ilustrar esse ponto, diria primeiro anatomia depois capital financeiro. Incentivo na capacitação dos empreendedores a pensar no modelo de negócio, a amadurecer as suas ideias e criar um MVP (Mini Produto de Valor). Por exemplo, vende uma garrafa de água, testa e passa de micro para macro, assim o empreendedor não pensa inicialmente no capital financeiro. Com essa experiência, aprende as lições e replica o processo, quando se tem essa abordagem de ir passo a passo, testar a ideia, começar de uma forma micro para expandir para macro, é o próprio negócio que nos leva a ir buscar o financiamento necessário para aquilo que já tem criado, pode-se também experimentar no digital, criar uma empresa virtual, testar e ver se vale a pena.

Como surgiu a ideia de escrever?

Com KUSSOKWELA, que significa plantar sementes ou semear na língua quimbundo (Kimbundu), uma plataforma na qual faço laboratórios com jovens, sessões de coaching, mentoria para facilitar a criação de uma mentalidade empreendedora, decidi escrever artigos no jornal PAÍS, em Angola, para partilhar com as pessoas.
Tive a necessidade de catalogar todo o meu conhecimento que fui adquirindo ao longo dos anos num livro para compartilhar, é um livro de consulta, uma « galeria de conceitos » na qual transmito conhecimentos como consultora de negócios, mentora de empreendedores emergentes, como uma orientadora para líderes.

Quais são as dicas que daria às jovens mulheres empreendedoras que queiram singrar nos negócios?

Ter visão, criar uma marca pessoal para que se reflita no negócio que está a desenvolver, pensar em primeiro no amadurecimento da ideia antes de procurar financiamento mas poderá encontrar muito mais no meu livro.
Como empreendedora, treinamo-nos para resolver problemas, é um estilo de vida, na verdade, o empreendedorismo é um estilo de vida de uma forma humanizada, tenho muito essa componente de espiritualidade não de religião mas de espiritualidade, o empreendedorismo ajuda-me muito a perceber quem eu sou e ajuda-me a compreender o outro.
Em Portugal, tive a oportunidade de ir a um Congresso de Empreendedorismo, visitei o ecossistema do empreendedorismo durante uma semana, em Lisboa, que na verdade me incentivou a criar um ecossistema em Angola para apoiar os empreendedores mas também no mundo da Lusofonia.
« A crise não justifica a morte de empresas », aliás, basta tirar o S da palavra « CRISE » transformando em « CRIE »!

Como encontra o seu equilíbrio quer a nível profissional quer a nível pessoal?

Gosto muito de ir aos cafés, gosto da natureza, tenho uma disciplina de gestão de tempo, tenho sentido de humor, gosto muito de brincar, nas minhas sessões de mentoria, digo muitas piadas, sou alegre, envolvo a minha família no que faço e isso traz equilíbrio no meu dia-a- dia, manter um estado emocional que traz esse equilíbrio é fundamental.

Existe uma Academia de meninos cientistas em Luanda, Viana, onde se ensina aos mais carenciados ciência, tecnologia, programação, matemática, engenharia…, qual é o seu papel enquanto madrinha desse nobre projeto?

Puxar as orelhas (risos), esses relacionamentos que crio são para sempre, vamos conectando-nos e acompanho o processo do crescimento deles, recolho donativos para certos países da África, ajudo em dar recursos, faço esse papel de facilitadora de conexão.

É Embaixadora da Paz reconhecida pela Universal Peace Federation&Youth and Student for Peace, que mensagem deixaria à comunidade lusófona?

O que nos é ensinado, como Embaixadora, é essa questão da cultura do coração, fazer as coisas em prol do outro, seja empreendedor, seja empresário, seja executivo, faça do coração e faça para o Bem do Coletivo porque acredito num mundo melhor. Para nós fazermos com que, de facto, o mundo seja melhor, um dos melhores caminhos é fazer com coração e humanismo.

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