O associativismo como um desafio para a diáspora na Alemanha

Num artigo do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas publicado no Portugal Post em novembro de 2024, pode-se constatar que a nova emigração urbana que vem para a Alemanha ou para outros países europeus, é muito diferente da primeira, no que se refere à importância que dão aos centros e associações da nossa Diáspora.
Verificou-se que nos últimos 10 a 15 anos, os filhos da pequena e média burguesia urbana (principalmente de Lisboa e Porto), começaram a sair do país e por esse motivo o Secretário de Estado assinalou ser necessário trabalhar em duas vertentes: junto dos muitos milhões de lusodescendentes espalhados pelo mundo e, também dos novos emigrantes, principalmente nos países com níveis de participação mais escassas.
Consequentemente fala-se de um trabalho que tem de ser levado a cabo, e onde ao mesmo tempo, se tem também que assumir algum desconhecimento em relação à forma como se pode e deve lidar com estas realidades.
Nota-se que é muito difícil chegar a estas comunidades para dar o apoio social onde este é mais necessário, assim como para divulgar a língua e cultura portuguesa. É uma matéria complexa que o governo português tem de se debruçar para desenvolver estratégias que possam enfrentar com sucesso estes desafios
Uma coisa é certa, uma intervenção no sentido de mobilizar 600/700 representantes da diáspora para suplantar dificuldades, isolamentos e falta de articulação entre as diversas entidades, assim como criar redes indispensáveis à escala global, não irão simplificar nem conceber soluções e caminhos eficientes para enfrentar estas problemáticas.
Há que perceber que a dita emigração da população portuguesa de perfil “rural” exerceu um contributo muito importante para a criação dos centros e associações portuguesas. Mas existe um motivo para que tal tenha acontecido: nas suas terras de origem, vilas e aldeias espalhadas pela província, estes emigrantes rurais conheceram e frequentaram os centros comunitários com as suas diversas atividades, sustentadas e apoiadas em boa parte pelas juntas de freguesia e câmaras municipais, sendo que muitos destes centros tinham e têm multiplas atividades e boas estruturas.
Chegados à “floresta estranha”, os emigrantes portugueses, tal e qual como conheciam das suas terras, criaram os seus centros comunitários para se auxiliarem mutuamente e para manter as suas “plausibilidades culturais”.
A única diferença é que nunca tiveram presidentes das juntas de freguesia e presidentes das câmaras municipais a ajudar.
Assim sendo e enquanto existirem, estarão vocacionadas para si mesmas.
Seria completamente irreal e ingénuo pensar convencer estes centros a fazer atividades de serviço social ou atividades culturais portuguesas com algum nível, não só vocacionada para a sua própria comunidade como também para a população do país onde vivem e trabalham, sem que recebam em troca uma série de contrapartidas que os motivem.
O nosso povo simples não foi enculturado e socializado no sentido de possuir um nível, um estado de consciência para preparar e exercer tais projetos e medidas.
Há que considerar, que um trabalho de comunity work / dinâmica comunitária não se pode dar ao luxo de escorregar em diletantismos, ausência de perceções certas e largas experiências nos terrenos em causa.
É necessário também, para a criação de certos projetos específicos que exigem equipas eficientes, experientes, e estruturas adequadas, assim como conceitos e estratégias devidamente adaptadas, pelo que, não será nada aconselhável em fases iniciais criar centenas de representantes ou agentes que mesmo sem querer, começam a criar conflitos uns com os outros… sendo também possíveis, atritos com as direções as quais são muito ciosas da sua posição e autoridade e que não poderão ser evitadas.
Estes polos, estas estruturas têm de possuir quadros preparados e especializados, raios de ação bem definidos e acima de tudo uma estratégia eficiente baseada nas realidades. Os polos funcionarão também como exemplos de sucesso que devem trabalhar na motivação das redes que se propõe criar e por isso precisam de peso, de “gravidade”, pois terão de ser para as comunidades portuguesas regionais pontos de referência, apoio, e motivação em matérias importantes não só para estas diásporas como também para o Estado Português, nomeadamente nas áreas da cultura, economia e ação social.
Gostaria de sublinhar que o GRI-DPA (Grupo de Reflexão e Intervenção – Diáspora Portuguesa na Alemanha) possui nos seus estatutos, nomeadamente no seu memorando um conceito de “Espaço Portugal”, criado perante a perceção do “desabar” das estruturas de apoio à Comunidade Portuguesa na Alemanha, (Centros, associações, missões católicas, rede de serviços sociais para portugueses na RFA da Caritas Alemã). Este conceito visa conceber uma resposta e criar algumas estruturas que possam contrariar a decadência entrópica da Diáspora Portuguesa na Alemanha, pois já nessa altura se percebia a necessidade de cerrar fileiras perante a decadência e a falta de dinâmica dentro da Comunidade.
Posteriormente e a pedido de um relatório por parte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas aos conselheiros das Comunidades, foi transmitido da minha parte e da minha colega ao Secretário de Estado, que perante a entropia que se fazia sentir na Comunidade Portuguesa desde os fins dos anos 90, a necessidade de uma mudança de paradigma no acompanhamento e apoio às Comunidades Portuguesas e que, por isso mesmo, uma recriação da dinâmica na Diáspora não poderia ser conseguida se não se criasse nos consulados uma conceção inovadora de um apoio estratégico à Comunidade nas matérias já por mim citadas.
Assim sendo, podemos constatar que já existem conceitos concretos e claros que podem levar à elaboração e aplicação de estratégias e ações eficientes.
Seria muito positivo e proveitoso se o Estado Português percebesse que na Diáspora existe conhecimento e experiência no que respeita a soluções viáveis para defrontar os problemas com que a Comunidade e o Estado Português se debatem. Por último, é da maior pertinência perceber que a continuação desta citada entropia irá desaguar na assimilação da Diáspora Portuguesa dentro da população do país onde ela se encontra e com isso a perca gradual da sua identidade inicial. O que isso significa para Portugal creio não ser necessário especificar.
Por isso cinjo-me apenas a sublinhar que identidade é o combustível que faz vibrar a alma, que dá o entusiasmo para criar, para sobreviver e saber quem se é…
É o elixir da vida, é o motor de identificação com os seus, com a sua família, com o seu país e outros mais valores e objetivos.
Não é por mero acaso que a moderna neurobiologia alemã procura explicar ao Estado Alemão, que a preparação ideal e motivante para o futuro das suas crianças e jovens, terá que passar cada vez mais por um sistema de aprendizagem e identificação que torne possível um profundo conhecimento da natureza e da cultura e do seu processo e relação dialética, e que isso não poderá ser conseguido dentro das quatro paredes de uma sala de aulas, mas sim no espaço onde as coisas acontecem e num clima de ação onde a vida decorre…
Porque a motivação e o entusiasmo programam a nível biológico as modificações no cérebro e na estrutura genética!