Ser pai


O dia do Pai chegou e para assinalar esta data que se esforça por recordar aos pais a importância do seu papel na educação e vida dos filhos, mas que também, curiosamente, se esforça por incentivar os filhos a dizerem o quanto gostam e amam os pais, foi-me pedido um pequeno texto com o título “eu Pai, eu Psicólogo”. Logo eu, cuja experiência em ambas as facetas é ainda tão jovem.
Não considero que ambos os papeis sejam comparáveis e se o são, são-no tanto ou tão pouco como a experiência de escrever algo (de opinião) através do qual me irei expor a tantas outras perspetivas e opiniões. Um pouco como pai, que acaba por aqui ou ali ficar debaixo do olho de quem observa a “arte de quem educa”, principalmente quando a exigência das circunstâncias assim o dita (refiro-me aquelas desconfortáveis experiências que, imagino que a tantos pais também, e mães, nos reportam e quase transportam para uma vivência emocional quase adolescente).
A responsabilidade entre escrever um texto e educar uma criança só seria próxima se eu fosse um género de Dalai Lama, ou Papa Francisco, que quando falam tocam milhões. Lembro-me de ter assistido num documentário (não me lembro qual nem quando), que estimava o número de pessoas que em média uma pessoa conhece em vida (também não me recordo quantas).

Onde quero chegar é que uma criança tem um potencial tremendo, e como pai sinto-o como uma responsabilidade enorme que de certa forma tenho de relativizar para não cair em dramas. Enquanto psicólogo, a responsabilidade é igualmente grande, ou não existiria um código ético e deontológico que procura nortear a prática, nem uma vontade interior de fazer a diferença na vida de pessoas que de certa forma não estão a conseguir melhor (por si ou por meio de outras estratégias). É certo que se vejo um filho meu como criança com potencial tremendo, assim o vejo toda e qualquer outra criança, e ter assumido o papel de psicólogo de crianças, jovens e adolescentes…. Acho que o fiz com a mesma ideia que tinha quando enquanto adolescente dizia convicto “Eu? Quero ter uns 5 filhos!”. Que vontade de rir me dá agora
Pensar no ter sem pensar na manutenção que esse algo que se tem implica pode revelar-se uma verdadeira aventura. O pânico que senti quando soube que vinha o segundo (sim, porque nenhum dos dois foi planeado), bateu numa parede que soou a música para os meus ouvidos e algodão doce para o meu coração “Na vida tudo se cria!”. Que bom, talvez a filosofia Carpe Diem se aplique à parentalidade como uma luva.

Como psicólogo, a responsabilidade que sinto ainda não encontrou parede semelhante. Antes pelo contrário! Sedento de Agostinho da Silva por quanto mais o conhecia, que acabei, durante a formação, perante um enorme precipício. “A psicologia é uma ciência pela qual tive sempre a maior das desconfianças porque sempre me pareceu uma detestável e condenável intervenção na vida alheia, uma quebra do que existe de mais sagrado, a intimidade espiritual de cada um.” Que tinha feito eu ao escolher tal via profissional? Que papel poderia eu desempenhar que melhor serviria a determinadas necessidades da criança, que os pais não pudessem suprimir?

A responsabilidade para com os pais sinto-a como um enorme desafio. Responsabilidade pelo respeito à individualidade de cada um e à sua história. Respeito porque quando percebo… tenho os meus telhados de vidro. Deparar-me com crianças com as mais diversas dificuldades, sejam sociais, comportamentais, psicológicas ou emocionais, e constatar que tantos dos pais procuraram e procuram dar o melhor de si, numa luta que se estende a tantos outros dos seus papéis. Pai e mãe, marido e esposa, trabalhador e trabalhadora, homem e mulher, filho e filha… Hoje li que pai presente será sempre um herói para o seu filho (Acho que queriam escrever presente com letra maiúscula). Assim o será cada mãe, e provavelmente com poderes mais complexos e polidos.

Que erros estarei eu a cometer enquanto pai achando que estou a fazer o melhor? E como psicólogo? Sim, porque um psicólogo também é pessoa e também erra. Ainda que agarrado à responsabilidade e brio de querer e fazer por ser melhor profissional a cada dia.
Como psicólogo, gosto de me ver como um facilitador da condição humana.
Como pai, não consigo encontrar as palavras. Talvez, e lá está o drama, como um corajoso que diariamente procura estar para eles (são dois, um de 3 anos e meio e outro de 5 meses). Serei também aqui um facilitador da condição humana?

De certa forma soa a redutor num papel de pai. Mas não será mesmo isso ainda que numa escala diferente?
Como pai e como psicólogo, espero estar a contribuir para um mundo melhor. Sem grandes certezas, o que me recorda uma passagem do livro A insustentável leveza do ser de Milan Kundera. “O homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado” … e continua “Nunca saberemos, de facto, se a intuição que nos determinou seguir certo sentimento foi correta ou não.

Não quero concordar ou discordar, mas a reflexão leva-me a que podemos e devemos fazer o nosso trabalho de casa para que enquanto pais e profissionais consigamos antecipar a antecipável.

Enquanto pai e enquanto psicólogo, cuidar das minhas emoções com um carinho muito especial, sem esquecer, cuidar dos outros com a mesma dedicação.

Feliz dia do pai a todos os pais!
Feliz dia a todas as mães!
Feliz dia a todos!

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