Marrocos

Chefchaouen – Cidade Azul

A viagem deste mês leva-nos à mais pitoresca cidade do norte de África, claro está falo da célebre cidade de Chefchaouen.  A Chefchaouen por vezes denominada por Barraxe ou Barraxá caracteriza-se por um pequeno povoado a norte de Marrocos, situado nos contrafortes das montanhas do Rif devidamente encaixada entre dois montes «Kelaa e Megu». A morfologia natural do terreno conduziu a que os locais apelidem a cidade como a cidade de “entre os Chifres”, no qual corre uma fonte de água natural que terá sido o principal motivo para o povoamento.

A cidade de Chefchaouen terá sido fundada no ano de 1471, caracterizada inicialmente por albergar um pequeno povoado instalado num Kasbah criado pelo líder militar Moulay al-Alami por forma a combater a presença portuguesa no norte de Marrocos.  Os habitantes primordiais de Chefchaouen eram provenientes de tribos nómadas, todavia com a expulsão dos Judeus da Península Ibérica e perseguição aos Moçárabes, terá contribuído para um aumento da população. Viviam-se tempos conturbados na região o combate com os reis cristãos fazia-se em solo africano.

Chefchaouen detinha a localização privilegiada e terá servido de base a muitos ataques nas cidades de Tanger e Arzila. Actualmente é possível ler os manuscritos «Anais de Arzila» do escritor/militar Bernardo Rodrigues, que em 1528 terá sido mantido em cativeiro numa prisão da cidade. Os ataques contra as tropas portuguesas prolongaram-se no tempo, sendo que no ano 1550 a vitória muçulmana em Arzila e a morte do Rei S. Sebastião em Alcácer-Quibir, precipitaram uma diminuição da importância da cidade. O facto de os portugueses estarem remetidos às cidades de Tanger e Ceuta, alterou o paradigma da região conferindo uma maior importância à cidade de Tetuão. Chefchaouen prosseguiu na história como uma cidade encerrada a visitantes europeus, a distância a cavalo para as cidades vizinhas e a presença do túmulo do santo Moulay Alami   tornaram a cidade um local sagrado, proibindo a presença de não muçulmanos durante diversos anos.

A clausura de Chefchaoen só viria a ser revertido em 1920, aquando da integração efetiva da região no protetorado de Espanha. Existem testemunhos dos primeiros espanhóis a entrarem na cidade que relatam a presença numerosa de uma comunidade judia sefardita que escreviam castelhano medieval, língua extinta em Espanha há mais de quatro séculos. Este facto deve-se aos milhares de pessoas que fugiram de Al-Andaluz, nomeadamente cidades de Sevilha, Córdoba e Granada.  Seguiram-se anos de ocupação espanhola e de disputa com a Républica do Rife liderada pelo rebelde Abdel-Krim que viria a ser derrotado com ajuda dos franceses. Em 1956 é arridada pela última vez a bandeira de Espanha na cidade, transitando para domínio de Marrocos, claro está esta cidade assim como outras limítrofes ainda hoje é possível encontrar pessoas que dominam fluentemente o espanhol.

A localização difícil de Chefchaouen conduz a que a cidade seja apenas um local de passagem, no qual os turistas acedem partir de outras cidades com maior relevo, como Tanger, Rabat, Ceuta ou Fez.  Conhecida pelos seus tons de azul, considerada por muitos como a cidade mais “instragramavel” do mundo proporciona aos visitantes fotografias realmente incríveis. A origem da pintura em tons de azul de ruelas e habitações é desconhecida, existindo diversas teorias sobre o assunto, a mais consensual está associada à migração de Judeus Sefraditas provenientes da Europa em função da 2ª Guerra Mundial. Segundo consta estes Judeus trouxeram consigo o hábito de pintar as habitações numa tentativa de representar aproximação ao céu.  Outras teorias são igualmente abordadas pelos locais, como a frescura que este tipo construção apresenta, a adoção do azul como homenagem à queda de água. Nos registos históricos fica comprovado que a cidade não seria toda azul, existem menções à existência de uma medina em tons brancos. A verdade é que atualmente a cidade cresceu toda em tornos de azul, sendo que o governo proporciona materiais para que assim continue, por forma a manter o interesse turístico do local. Mas engane-se quem pensa que Chefchaouen é apenas um local de paredes azuis e prepara-se para uma visita inesquecível.

A visita inicia-se numa manhã de calor, a entrada na cidade é efetuada através de uma das portas circundantes da muralha de tons laranja. Optei pessoalmente por aceder através da Bab El Hammar, sendo que esta porta conflui diretamente ao coração da cidade, nomeadamente a praça central de Uta el-Hammam e o Kasbah. A primeira impressão da cidade é a de uma pequena vila tomada por felinos e na qual os habitantes não se inibem com a presença de turistas. O guia pede que não se fotografe diretamente as pessoas, isto porque culturalmente poderá ser mal interpretado pelos locais. Chefchaouen turístico é relativamente pequeno, sendo relativamente acessível aos mais desorientados turistas.


Medina de Chefchaouen

As medinas em Marrocos representam o “coração” da cidade, nomeadamente é o local onde são realizadas trocas comerciais entre os habitantes. A medina de Chefchaouen destaca-se das demais, devido à cor azul das paredes, os vasos floridos, as portas centenárias, fontes devidamente ornamentadas. A cada passo que o visitante dá na medida, a cada dobrar de esquina surge “algo” novo e surpreendente. As vielas apertadas estão repletas de turistas e de lojas que vendem essencialmente produtos locais, todavia a massificação turística tem contribuído para o desvirtuar de alguns produtos.  O caminho é por vezes existente visto que a medina se prolonga até ao sopé da montanha, recomendo paragens estratégicas na qual devem aproveitar as inúmeras bancas de sumos naturais. 

Seguindo pela medina para Este chegamos à porta Bal el Onsar, este local é bastante pitoresco, visto que nas proximidades do rio Fouara que abastece toda a cidade com água potável. Nas imediações podemos observar um pequeno mercado de fruta e uma zona de lavagem. Os marroquinos utilizam este ponto como local de lavagem de roupa, num registo de habilidade por meio das rochas do leito do rio.

Kasbah

O Kasbah de Chefchaouen é um pequeno complexo fortificado inserido na muralha, dotado de torres defensivas que terá albergado essencialmente militares. Apesar do estado de conservação, recomendo uma visita. A vista proporcionada pela torre principal, designada como “Torre Portuguesa” é privilegiada e permite uma visão a 360 Graus da cidade.No interior do Kasbah “Torre Portuguesa”  poderá ainda observar uma prisão que durante anos albergou prisioneiros Cristãos incluindo portugueses capturados nas incursões ás muçulmanas a cidades do norte Marrocos.

O pátio do Kasbah é demonstrativo de um jardim árabe, repleto e árvores, nomeadamente palmeiras e laranjeiras que conjuntamente com uma fonte central, transparece a ideia de um pequeno oásis.

No interior do Kasbah podemos visitar o Museu Etnográfico que alberga artefactos relacionados com as comunidades e tradições tribais da região. No interior é possível observar ferramentas para trabalhar couro e madeiras, assim como vídeos elucidativos sobre a construção de instrumentos musicais, recordo que a música é a essência deste povo habituado a conviver no deserto em torno de uma aconchegante fogueira.

Praça Uta el-Hammam

A praça central de Chefchaouen conquista o mundo pela sua simplicidade, repleta de comércio, nomeadamente restauração, este lugar é abençoado do ponto vista arquitetónico. Os edifícios circundantes transparecem anos de influência árabe e espanhol, a fonte central funciona como um refúgio com sombra, na qual podemos parar e observar a vida própria da local. Em Chefchaouen a desorientação termina sempre neste local, portanto esteja á vontade de explorar as ruas.

A praça central é igualmente um local privilegiado para arte, destaque vai para a pintura, é um local no qual se reúnem diversos pintores que tentam comercializar os seus quadros predominantemente em tons de azul.

Na praça principal de Chefchaouen podemos encontrar dos estabelecimentos de banhos Hammam. O calor que se faz sentir convida a um banho, todavia não foi propriamente a minha opção, apesar de aparentemente bastante limpo este Hammam público é usado pelos fundamentalmente pelos locais.

A Grande Mesquita

Apesar de não ser possível visitar o interior, exceto Muçulmanos é impossível ficar indiferente a este edifício. Esta mesquita data do século XV, sendo que a sua construção se deve ao fundador da cidade. Este famigerado monumento destaca-se pelo seu minarete em formato octogonal. Ao longo do dia os altifalantes impressionam os visitantes com múltiplas chamadas para a oração. Aproveite uma das diversas esplanadas de cobertura na praça uta el-Hammam ao sabor de um chá de menta oiça os encantos da mesquita que se propagam sob a cidade.

Visitar Chefchaouen é algo indescritível, o viajante depara-se com uma realidade completamente diferente de todos os povoados marroquinos. A originalidade de Chefchaouen é única resta esperar que o turismo massivo não a destrua.

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