Agnaldo Bata

Palavra ao Associado AILD

Agnaldo possui um mestrado em Ciências Sociais – Mundos Urbanos e Desigualdades Sociais pela Universidade de Paris VIII, França e uma licenciatura em Sociologia pela Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique. Em 2017 publicou o seu primeiro romance intitulado “Na Terra dos Sonhos”. Em 2019 publicou o seu segundo romance intitulado “Sonhos Manchados, Sonhos Vividos” depois de ter recebido uma menção honrosa na 2ª edição do concurso literário INCM Eugénio Lisboa. Escreve para jornais, para o teatro, para revistas e participa na ontologia Contos para ler em casa editada pela revista Literatas em 2020 e no projeto “Mapas do Confinamento”, criado em 2021 por um grupo de escritores de língua portuguesa. Está atualmente a colaborar com uma organização não governamental dedicada à promoção da educação e formação de mulheres com grande potencial de liderança em Moçambique.

Considera-se um sociólogo escritor ou um escritor sociólogo?

Considero-me um curioso contador de histórias. A minha formação em Ciências Sociais, particularmente em sociologia, fornece-me uma série de ferramentas que me permitem pesquisar e fazer leituras sobre a realidade à minha volta. A escrita é aquele campo onde, de forma mais livre e criativa, posso partilhar os meus sentimentos, frustrações e sonhos em relação ao mundo em que vivemos. Portanto, a sociologia e a escrita não se anulam, elas complementam-se.

Quando nasceu a paixão pela escrita?

Sempre gostei de contar histórias, só não sabia como o fazer. Levou tempo até encontrar a forma que era ideal de fazer isso. Comecei pelo teatro e, paulatinamente, senti que precisava de mais tempo e liberdade que o teatro não me oferecia e fui me orientado para a escrita. Não comecei a escrever como objetivo de publicar, apenas queria passar para o “papel” algumas reflexões que eu tinha. A realidade é que me impeliu para a publicação.

Estudar em Paris, era um sonho, um objetivo?

Ambos. Paris é daquelas cidades que bastante projetada em várias histórias reais e ficcionais da cultura ocidental. Devido ao efeito da colonização cultural e da “globalização”, acabamos cultivando o sonho de algum dia poder conhecer essa mítica cidade que é Paris, e eu não fui imune a esse sonho. Por outro lado, tinha a consciência de que poderia crescer academicamente e profissionalmente caso eu fosse exposto a um ambiente académico e social francês, daí o facto de estudar em Paris ser igualmente um objetivo.

Em 2015 foi premiado no concurso literário dos 40 anos do Banco de Moçambique com a obra “Na Terra dos Sonhos” e mais recentemente em 2018 distinguido com a menção honrosa na 2ª edição do concurso literário INCM Eugénio Lisboa com a obra “Sonhos Manchados Sonhos Vividos”. O que representou receber estes prémios?

Como eu disse antes, eu nunca fui orientado para a escrita e muito menos para a publicação. Comecei a escrever… escrevendo. Fui curioso e concorri a esses concursos talvez como forma de eu mesmo testar a minha potencialidade na área e, surpreendentemente, parece que resultou. Recebi o primeiro prémio de forma totalmente inesperada. Desconhecia o mundo literário moçambicano, conhecia apenas os escritores pelos livros e nunca os tinha encontrado pessoalmente para lhes pedir conselhos sobre como escrever, então eu não esperava ser distinguido num concurso para novos talentos e foi a partir desse momento que percebi que eu poderia escrever melhor e de forma mais estruturada.  Três anos mais tarde recebi a menção honrosa logo na 2ª edição do prémio INCM Eugénio Lisboa, um prémio com enorme prestígio em Moçambique. Confesso que senti mais legitimidade depois dessa distinção e deixei de ser mero curioso passando a tornar-me também um profissional da área.  Por causa dessas distinções sinto a responsabilidade de cultivar a minha arte de tal forma que eu seja cada dia melhor para estar a altura dessas distinções.  

“Vozes e Versos” é segundo o Agnaldo, um podcast feito de e para leitores. Fale-nos deste projeto que lançou recentemente.

A ideia principal deste projeto é de promover a literatura a partir da experiência dos escritores. O escritor do livro é “único”, mas os leitores são vários e cada um recebe o livro de uma forma diferente. Conhecer e difundir a forma como os leitores recebem e compreendem os livros é também uma forma de difundir a própria literatura e contribuir para o seu desenvolvimento. Gosto especialmente deste projeto pois através dele é possível dar voz à leitores que estão distantes dos centros urbanos o que até então era pouco possível através projetos de promoção da literatura existente em Moçambique.  

Porque se tornou associado da AILD?

Porque me identifiquei com a ideia de uma associação cultural/cientifica que promove a cultura lusófona em vários cantos do mundo, mesmo em países que não são lusófonos e sobretudo pelo facto da AILD não ser exclusiva apenas à pessoas de nacionalidade portuguesa ou dos seus descendentes, o que o torna um excelente espaço de intercâmbio cultural e de promoção da multi-culturalidade. 

Vai ser o futuro Diretor Geral da AILD/Moçambique. Quais são os seus objetivos para esta delegação e quais são as prioridades para o seu mandato.

Esse é um desafio muito complexo. Acho que o importante neste momento é difundir as atividades da AILD em Moçambique, formar uma estrutura local e fazer com que ela contribua para a promoção cultural moçambicana e da cultura lusófona.

Como vê o futuro de Moçambique a médio prazo? A paz vai chegar?

Moçambique tem vários desafios, mas também tem várias potencialidades, é preciso transformar essas potencialidades em oportunidades reais e sustentáveis. Contudo, antes de mais, vejo um país que se livra das ameaças terroristas. Creio que isso é urgente e só depois disso podemos sonhar com um desenvolvimento sustentável e equitativo.

Uma mensagem para Moçambique.

Somos um país multicultural e essa é a nossa maior riqueza. Não tornemos nisso numa fraqueza.

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