Rastreio e Inclusão na perda visual

O que é a visão? A visão é um processo complexo que envolve os olhos, o cérebro, e uma série de estruturas e mecanismos que trabalham em conjunto para transformar a luz que os nossos olhos recebem em imagens que o nosso cérebro compreende. Diferentes áreas do nosso cérebro processam essa imagem, interpretando-a, atribuindo-lhe significados e calculam como proceder mediante essa informação.
A visão é, por isso, um sentido que muito facilita a nossa interação com o mundo. É o motor de atividades básicas do nosso quotidiano como a leitura, condução ou identificação de rostos, e muito contribui para o nosso desenvolvimento social, educacional e emocional. Disto deriva que problemas graves de saúde visual possam comprometer a capacidade de aprendizagem em crianças, reduzir a produtividade em adultos e limitar a independência em idosos, bem como contribuir para o aparecimento ou agravamento de ansiedade e depressão. O provérbio popular “prevenir é melhor do que remediar” é amplamente utilizado em contextos médicos e tem orientado políticas de saúde pública, particularmente programas de vacinação, rastreios e estilos de vida saudáveis.

Fazendo jus à sabedoria tradicional, prevenir, rastrear e tratar precocemente mantém-se a forma mais eficaz de evitar problemas visuais graves, com subsequente baixa visão ou cegueira. Nesse contexto, é fundamental que indivíduos de todas as faixas etárias, desde recém-nascidos até idosos, realizem exames visuais de forma regular. Em crianças, o rastreio deve iniciar-se nos primeiros meses de vida, com avaliações periódicas ao longo da infância. Nos adultos, recomenda-se a realização de exames anuais ou bienais, especialmente a partir dos 65 anos, quando aumenta o risco de doenças relacionadas com a idade. Mas naqueles com doenças que podem interferir na função visual, ou antecedentes familiares de doenças que possam ser hereditárias, o rastreio poderá ter que ser mais frequente. Entre as patologias mais prevalentes destacam-se a catarata, o glaucoma, a degenerescência macular da idade (DMI) e erros refrativos, como miopia, hipermetropia e astigmatismo. Em crianças, acrescenta-se ainda a ambliopia (“olho preguiçoso”) e estrabismo. Os avanços tecnológicos na área da oftalmologia têm potenciado as vantagens dos rastreios, ao permitir diagnósticos mais precisos, numa fase mais precoce e intervenções mais seguras e eficazes. Equipamentos modernos, como a tomografia de coerência ótica (OCT), medicamentos inovadores como os fármacos biotecnológicos, e intervenções cirúrgicas com recurso a tecnologia LASER ou dispositivos implantáveis, têm revolucionado o diagnóstico e o tratamento de doenças como a retinopatia diabética, a DMI e o glaucoma. Nas crianças, o diagnóstico precoce de ambliopia permite o seu tratamento e reversão, evitando assim uma vida de perda visual irreversível. O aparecimento recente de novas tecnologias que permitem atrasar a progressão da miopia tem também permitido intervir precocemente neste erro refrativo que atingirá 45% da população europeia no fim desta década.

Mas nem todas as doenças oculares são preveníveis ou tratáveis. Estima-se que, em Portugal, pelo menos 1% da população tenha critérios de baixa visão, subindo essa percentagem para mais de 3% na faixa etária acima dos 65 anos de idade. A baixa visão e cegueira associa-se frequentemente a perda de autonomia e mobilidade, discriminação de múltiplas formas, e maior prevalência de perturbações de ansiedade e depressão. Falar de prevenção de perda visual requer assim que se fale também do que é viver com baixa visão ou cegueira, e da importância da inclusão.
A inclusão, neste contexto, significa criar espaços, oportunidades e sistemas que atendam a pessoas com todo o tipo de capacidade visual. Significa garantir que as crianças com baixa visão têm acesso à educação através de medidas e tecnologias de apoio; que os locais de trabalho acolhem pessoas com necessidades visuais diversificadas. Significa projetar espaços públicos que sejam seguros e acessíveis. Significa apoiar e investir em projetos que simbolizam estes conceitos. E para o sucesso destas iniciativas é um requisito que a Sociedade esteja informada sobre a sua importância e apoie a sua implementação.
A saúde oftalmológica é um componente fundamental para garantir a qualidade de vida em todas as fases da existência humana. A prevenção, o rastreio e o tratamento precoce constituem as estratégias mais eficazes para evitar complicações irreversíveis e perdas significativas da capacidade visual. No entanto, quando ocorre uma perda funcional visual que interfere nas atividades diárias, a reabilitação, a utilização de tecnologias de apoio, bem como técnicas de orientação e mobilidade, entre outras estratégias, são cruciais para preservar a autonomia e dignidade dos indivíduos. Para fomentar uma sociedade mais saudável e equitativa, é imprescindível que todos sejamos proativos tanto na prevenção quanto na inclusão das pessoas com deficiência visual.