Tiago Fernandes

Tiago Fernandes nasceu em Paris, a 22 de abril de 1982 e atualmente reside em Caminha. É ator profissional desde 2002, licenciado em Estudos Teatrais – ramo vocacional pela Universidade de Évora, estudou ainda na London Language and Drama School (Reino Unido). No seu percurso profissional, para além da atividade de ator de teatro, contam-se experiências variadas como participações em rádio, apresentação de eventos, animações e recitais, figuração especial para televisão, bem como a participação em curtas-metragens e filmes publicitários e institucionais.
Atualmente integra o elenco residente do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, é responsável pelas Edições e Relações Internacionais, encenou “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” e coordena, também na companhia, o ATIVA Sénior – Oficina de Teatro com Seniores.

Nasceu em França e com 7 anos veio viver para Portugal. O que ficou do país de nascimento?

Para além das mais belas memórias de uma infância feliz, continuam lá muitos tios, primos e até amigos. Trouxe-os todos comigo no coração, assim como a língua e toda uma cultura que vai mais além dos croissants (prefiro os queijos, a literatura, o cinema e os perfumes).
Ficou também o gosto pelas línguas, tão úteis nas relações internacionais e na tarefa de responsável pelo projeto editorial do Teatro do Noroeste –Centro Dramático de Viana.


Quando decidiu que a sua vida profissional seriam as artes? Porquê ator? O que o fascinou?

Desde muito cedo que trabalho com o público infantil. Logo depois de concluir o curso, tive a oportunidade de fazer animação numa biblioteca e sempre que os mais pequenos me faziam essa pergunta eu respondia que, com a idade deles, sonhava ser bombeiro, médico, padeiro, astronauta, polícia, veterinário, e por aí fora. E um dia descobri que havia uma profissão que me poderia permitir ser isso tudo: ator!
Nunca lhes disse e, se estiverem a ler isto, aproveito para pedir que me desculpem a mentirinha, mas a verdade é que desde muito cedo tive claro que era isto que queria fazer.

Como se deu o seu ingresso no Teatro do Noroeste?

Em 2002, estava eu no meu 2º ano de licenciatura e vi no jornal que o Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana ia fazer audições para atores estagiários. Já era espetador da companhia e não hesitei. Fiz a audição e fui selecionado. Parece que foi ontem, mas dizem que 2002 foi há 20 anos!

Como é que se realiza 5 novas criações e 100 representações (em média) por temporada?

Sabendo que cada processo é único, a adaptação é constante, assim como a oportunidade de trabalhar com novas equipas. Digamos que trabalhar aqui não é nada monótono. Há rotinas, sim. Dois dias iguais, nunca.

O Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana conta já com uns notáveis 31 anos de existência. A que se deve este sucesso e longevidade?

Antes de mais e, sem receio, acredito que isso se deve às pessoas. Quando digo pessoas refiro-me aos profissionais que cá estão e os que por aqui passaram. Mas sobretudo ao público, à comunidade que convive com o projeto.
Desde a sua fundação, a Companhia tem presente a sua missão para com um território, fomentando hábitos de fruição cultural e respondendo à demanda e necessidade de mais e melhor oferta no setor.
A casa, o belíssimo Teatro Municipal Sá de Miranda também constitui um espaço congregador, cada vez mais consciente das acessibilidades e da inclusão. São cada vez mais os que nos visitam e acabam por se juntar à família. A casa tem essa característica, mas os que nela vivem e por lá passam, é que lhe dão vida.

Para além de ator, o Tiago é também o responsável pelas Relações Internacionais do Teatro do Noroeste. Para onde viajou já o TN? Qual foi o país que melhor vos acolheu? Qual o destino que ainda não levou as vossas peças mas que gostaria muito?

Desde a origem, dada a nossa localização estratégica de fronteira, o Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana tem as melhores relações com a vizinha Galiza. Para além de Espanha, soma no seu historial idas ao Brasil, França, Luxemburgo e, graças ao digital, chegámos à Coreia do Sul. Também, da aventura do digital, tivemos retorno de espetadores da Austrália, Malásia, Guiné e da Bélgica.
Já na próxima semana, partimos para Cabo Verde, onde apresentaremos “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” na MOTIM –Mostra de Teatro Infantil do Mindelo.

Os portugueses são dos cidadãos da União Europeia com menores taxas de participação em atividades culturais. O que acha que pode ser feito para mudar este paradigma?

Sim, são dados comprovados. No entanto, Viana não é exemplo. A estratégia que assumimos nos últimos anos de aproximar públicos, implicando a comunidade em toda a nossa atividade, poderá ser uma boa pista para mudar esse paradigma. Não é só para ela que trabalhamos. Também temos de estar de mãos dadas e apostar na continuidade desta forte ligação que construímos.

Qual foi a peça que mais gostou de representar?

Isso é como perguntar a uma criança se gosta mais do papá ou da mamã. Como já disse, cada processo, cada texto, cada personagem é diferente da anterior. Traz novos desafios e faz-nos questionar e crescer. Talvez por isso, guardo memórias especiais de processos que coincidiram com fases mais duras da minha vida pessoal. Talvez por terem sido um bom medicamento, esses processos foram os que mais gostei.

Antes de entrar em palco ainda sente aquele nervoso miudinho?

Claro! E que bom esse nervo. Trata-se de respeito, sentido de responsabilidade e uma imensa gratidão pelo que fazemos e por quem está connosco no processo e, finalmente, na plateia a ver-nos. É um nervo. No dia em que o não sentir, deixo isto.

O Tiago celebra este ano 20 anos de carreira. Que balanço faz desses 20 anos?

O balanço não poderia ser melhor. Olho para trás e sei que fiz as escolhas certas. Olho para o presente e tenho a certeza que estou no sítio certo a fazer a coisa certa. E olho para o futuro com o mesmo deslumbramento de há 20 anos atrás. Vejo que há tanto para aprender e ser dito. E quero tanto fazê-lo!

Durante todos estes anos certamente teve alguns episódios engraçados. Conte-nos um que lhe tenha ficado na memória.

Recordo com um sorriso as coisas incríveis que fomos capazes de fazer nos momentos mais difíceis. Como aquele dia, durante um quadro teatral de rua na Feira Medieval de Viana do Castelo, em que desata a chover torrencialmente, o público desaparece, a praça fica vazia e, nós atores vestidos de época e completamente molhados, estoicamente nos mantivemos nas marcações. Entredentes, recordando a grande Palmira Bastos, digo eu: “as árvores morrem de pé”. Ainda hoje, todos os que lá estávamos, nos rimos lembrando este episódio.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Num mundo e numa época como esta em que vivemos, acredito que os artistas têm a força e a missão de ajudar a transformar a nossa sociedade e o seu pensamento em prol de um mundo melhor. A arte pode e deve confrontar, aproximar e fazer questionar o próximo. Temos o poder e a responsabilidade de lembrar que um mundo tolerante, inclusivo, justo e solidário, é o mundo que todos desejamos e merecemos.

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