Aníbal Raposo

© Fernando Resendes

Aníbal Duarte Raposo, faz parte de uma geração de cantautores que nos últimos quarenta anos tem renovado a música açoriana com temas e poesia originais que, bebendo fundo nas raízes do cancioneiro das ilhas, sofrem influências dos grandes compositores das músicas populares portuguesa e brasileira e mesmo da música clássica.
Já atuou em todas as principais salas de espetáculo das ilhas açorianas, na Madeira, em Portugal continental e no estrangeiro e gravou diversos trabalhos musicais incluídos em séries da RTP Açores. Está representado em discografia diversa com outros autores sendo de salientar os seguintes trabalhos a solo: “Maré cheia” editado no final de 1999; “A palavra e o canto” editado em abril de 2006; “Rocha da Relva”, editado a 2 de agosto de 2013 e “Mar de Capelo”, editado em 2017 e “Falas & Afetos”, editado no final de 2021 e “Luz do Tempo” editado em 2022. A 5 de junho de 2017 foi agraciado pela sua obra artística com a Insígnia Autonómica de Reconhecimento pela Assembleia Regional dos Açores, na presença de Sua Excelência, o Presidente da República.

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Quando e como se deu a ligação às artes?

Desde muito novo por influência do meu avô paterno e do meu pai que tocavam guitarra e também do avô materno que era poeta popular.

Engenheiro, gestor de empresas, cantautor, poeta e pintor? Em qual destes papéis se sente mais realizado?

A pessoa que sou incorpora e realiza-se em todos essas facetas. Sempre achei que as artes e os saberes não são compartimentos estanques.

Quem são as suas principais influências musicais?

É difícil responder, pois gosto de toda a boa música, desde a clássica à popular. Os meus álbuns são a prova disso: visto os meus poemas com o estilo musical que acho que melhor se adequa. Vou pela música tradicional, pelo rock, pelos blues, reggae, samba, bossa nova e por aí fora. Os meus gurus são José Afonso e Chico Buarque de Holanda.

Como é feito o seu processo de composição?

A maior parte das vezes, escolhido um tema, cai-me a letra e a música ao mesmo tempo. Prezo e trabalho muito a palavra que é uma característica dos meus temas.

Depois de ter passado por alguns projetos musicais como os “Construção”, “Rimanço” e Albatroz, decidiu-se por uma carreira a solo. Foi por uma questão de liberdade criativa, ou apenas uma evolução natural?

Foi um processo natural. Muitos dos meus amigos que passaram por esses grupos continuam a colaborar e a pisar os palcos comigo. Estou-lhe muito grato por isso.

Tem musicado grandes poetas açorianos tais como Álamo de Oliveira, Emanuel Félix e Natália Correia. É uma fonte natural de inspiração? Qual é a importância de trazer estes poemas para a música?

Sou um grande leitor de poesia. A maior parte da minha biblioteca são livros dos grandes poetas portugueses e estrangeiros. Para além dos meus próprios poemas musiquei ainda alguns outros poetas conhecidos da língua portuguesa. Por exemplo: David Mourão Ferreira, Mário de Sá Carneiro, Vinícius de Moraes, Mia Couto, Cecília Meireles, Gabriel Mariano, Maria Isabel Fidalgo. Gosto de trabalhar em poesia que me diga algo de novo. Costumo dizer que a música já está lá, dentro dela. O meu trabalho é destilar os poemas e extrair música.

O seu trabalho também é uma forma de resistência política ou social?

Sim, é. Procuro não me alhear, refletir muito e compor com sentido crítico sobre que se passa à minha volta e no resto do mundo. Isso também é claro em toda a minha obra. E escolho deliberadamente um lado: o dos mais desfavorecidos.

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É um dos grandes nomes que nos últimos 40 anos tem renovado a música açoriana. Como vê o atual panorama musical nos Açores?

Com grande otimismo. Há uma nova geração, cheia de talento, que vai continuar a dar à nossa música excelentes temas. Os compositores açorianos têm criado nos últimos anos um acervo musical enorme e de grande qualidade musical e poética. O que falta é dar visibilidade aos trabalhos no resto do país e no mundo.

Em média quantas horas dedica por dia à música?

Dedico diariamente à música pelo menos duas horas. Continuo a aprender com os mestres.

Concertos e projetos para 2025?

Este ano já atuei no Museu dos Baleeiros, na ilha do Pico, no Teatro Faialense, vou estar a 31 de agosto no palco das Noites de Verão em Ponta Delgada, nas noites de verão da Ribeira Grande e no Teatro Micaelense mais para o final do ano (datas a confirmar). Tenho colaborado com as escolas da região sempre que sou solicitado.
O meu projeto principal para 2025 é editar um Livro de Canções com cerca de cento e cinquenta composições que escrevi e selecionei. Pautas, letras, cifras e diagramas de acordes na guitarra. Deixarei assim a minha obra escrita para que tiver curiosidade de a consultar e tocar.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

Que a sua criatividade sirva para ajudar a construir um planeta melhor, mais feliz e solidário.

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